Eixo Formosinho Sanchez-Baltazar-Catanho de Menezes
Baleal, Portugal
A contagem decrescente para a meia-noite gerava discussão entre aquele cujo relógio já dizia 00:01 e o outro, que ainda ia nas 23h58. O desempate acabava ditado pela televisão e alguém pegava num pequeno gongo que por lá havia para assinalar o dobrar do Cabo das Tormentas, enquanto outro alguém fazia saltar a rolha do champanhe. Vínhamos para a rua, abraçávamos quem saía de outras casas, víamos gente que não sabíamos que estava no Baleal, tirávamos fotografias, bebíamos, comíamos e comíamos e bebíamos. Soou mal? Sabia bem...
Era no meio desta loucura toda que o PTD e eu íamos ao banho. Suscitávamos gargalhadas a uns, exclamações de "loucos!" a outros, palavras solidárias a mais alguns. O mergulho era e continua a ser um rito, sendo que àquela hora não tinha, sequer, o carácter purificador de hoje, quando dado de manhã. Se intoxicados entrávamos na água (e como, de comida e bebida, em doses suficientes para tornar desaconselhável a empreitada!), intoxicados saíamos e, pior, dispostos a prosseguir a intoxicação após um duche quente, como aliás os que ficavam na areia ou no muro a ver. Não me lembro de acidente mais grave do que a ressaca ou beijinhos a putativas (ou não) caras-metades.
Baleal, Portugal
A codorniz voa pela ilha onde tem andado pousada e dá voltas à memória para responder à pergunta do Miguel: como é o réveillon no Baleal? Alonga-se a codorniz, como de costume, e há que dividir a resposta em várias partes. Três devem chegar; eis a primeira.
Para este teu amigo, meu caro, a passagem de ano na ilha já assumiu vários formatos. Quando era adolescente, reuníamo-nos na casa velha dos Formosinhos (hoje cratera arrepiante onde florescem toscos de nova casa). Vinham a maioria dos 11 primos dessa família (Bernardo, Guilherme, Marta, Gonçalo, Pedro, Henrique, Carmo, Maria), o Vinícius e as primas Joana e Diana (Baltazar-Holbeche Beirão), a Nica e o Pedro Teixeira Duarte, um ou outro Formosinho "lá de trás", a minha irmã e eu. Alguns trazíamos namorad@s (alguns, hoje, mulheres e maridos, babados pais e mães) ou amig@s (Mariana Furtado, Pitu, JP, Maria João, Maria Ana, Margarida, Pedro Castanheira, to name but a few...). Éramos umas dezenas, em suma. Nem todos dormíamos naquela saudosa casa, mas era ali o centro dos festejos. Reproduzia-se o ambiente de Agosto, quando o querido Nico Formosinho abria a porta a três gerações de várias famílias, que vinham ver o Herman José, nos tempos em que ele tinha graça. Do sofá ao pátio, com as janelas abertas, tudo era casa.
A ementa do jantar de 31 de Dezembro era Tunatta Balealense, único prato que conheço nado e criado na ilha, à base de esparguete e atum (fica para outro dia a história desta iguaria e para outro, ainda, a narração de um incêndio à chuva). Cozinhávamos o Vini e eu, que éramos dos primeiros a chegar à ilha, lá para 27 ou 28 de Dezembro. Era das poucas vezes no ano em que ir ao supermercado me divertia... e lá se conseguia um repasto que saía a 200 paus a cada comensal. Os extras iam sendo trazidos por todos; havia bebida a rodos, acepipes vários, guitarras eléctricas e jogos de sociedade.
A contagem decrescente para a meia-noite gerava discussão entre aquele cujo relógio já dizia 00:01 e o outro, que ainda ia nas 23h58. O desempate acabava ditado pela televisão e alguém pegava num pequeno gongo que por lá havia para assinalar o dobrar do Cabo das Tormentas, enquanto outro alguém fazia saltar a rolha do champanhe. Vínhamos para a rua, abraçávamos quem saía de outras casas, víamos gente que não sabíamos que estava no Baleal, tirávamos fotografias, bebíamos, comíamos e comíamos e bebíamos. Soou mal? Sabia bem...
Era no meio desta loucura toda que o PTD e eu íamos ao banho. Suscitávamos gargalhadas a uns, exclamações de "loucos!" a outros, palavras solidárias a mais alguns. O mergulho era e continua a ser um rito, sendo que àquela hora não tinha, sequer, o carácter purificador de hoje, quando dado de manhã. Se intoxicados entrávamos na água (e como, de comida e bebida, em doses suficientes para tornar desaconselhável a empreitada!), intoxicados saíamos e, pior, dispostos a prosseguir a intoxicação após um duche quente, como aliás os que ficavam na areia ou no muro a ver. Não me lembro de acidente mais grave do que a ressaca ou beijinhos a putativas (ou não) caras-metades.
A festa terminava umas horitas mais tarde, decapitada pelo grito de alerta d@s desgraçad@s que tinham de estar em Lisboa à hora do almoço (nunca fiz parte desse grupo, graças a Deus!). Se o sol ou a luz dele apareciam por trás da Almagreira, era preciso começar a limpar. Sim, que aquela casa e as demais ficavam impecáveis, como as tínhamos encontrado. Depois, os mais sortudos prolongavam o idílio por uns dias, a um ritmo mais pausado, mas nem sempre menos disparatado...
(continua)
2 comentários:
Esta é uma das crónicas adiadas do extinto blogue do Baleal. Diria mesmo que eternamente adiada, mas ( eis senão quando) aí está ela.
O querido Nico F. Sanchez era mesmo um querido mas cismava que eu executava incorrectamente o passe por cima do voleibol ( com razão ) e chamava-me " mãos de veludo " o que me deixava algo despeitado.
Quanto ao Pedro Castanheira ( se te referes ao mesmo em que eu estou a pensar) ele é, hoje, fisicamente, uma espécie de versão lisboeta do " Gabriel, o Pensador". E é um músico , tipo " vai a todas" que compõe e "corre mundo" ( pelo menos, a Europa)
Caro Miguel, se o ditoso "Baleal, o Blog" tivesse permanecido, esta e outras histórias poderiam ser partilhadas com mais gente... tentemos reavivá-las nos muitos espaços blogosféricos de balealenses! Um abraço.
PS: O Pedro é aquele que dizes. Só o encontrei numa passagem de ano na ilha, que ele é Castanheira, mas pouco frequentador do Baleal... vinha à procura da minha irmã, sua colega de escola. E lá entrou pela casa dos Formosinhos, bem aquecido, perguntando se era ali que moravam os Cordeiros. É um tipo porreiro e muito interessante, de quem tenho saudades. E a quem mando frequentes abraços através do pai, meu colega no Expresso.
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