domingo, 30 de dezembro de 2007

Banho catártico


Já está. Fez doer os ossos, mas soube bem. O meu banho de Ano Novo (que às vezes, como desta, é de Ano Velho) foi no Baleal, num dia de sol a autorizar a manga curta, embora o mar fizesse jus à fama glacial que se lhe cola. Por entre surfistas de todos os tamanhos e idades, deslizava um caiaque aventureiro. Sem fato, só eu. Mergulho efémero, com passeio às Pedras Muitas como aperitivo, e um doce largartear ao sol, no pátio, como digestivo. A redenção final foi na banheira...

O ritual voltou, assim, à ilha que o acolheu durante muitos anos de adolescência. Era quase sempre às cinco da manhã do dia 1, com quantidades de comida no bucho e álcool no sangue a desaconselhar tal loucura. Nessa altura, éramos vários a cometê-la, por vezes au naturel. Nos últimos tempos, tornou-se um acto solitário, embora acompanhado por um olhar solidário. Azul, como o mar. Verde, como o mar. Cinzento, como o mar. Depende das marés e do céu.

No ano passado, dei este mergulho numa praia horrível de Marbelha cujo nome já esqueci. Há dois anos, na Concha de San Sebastián, num repente, com restos de neve sobre a areia. Riazor, na Corunha, e a mediterrânica Barceloneta também se revelaram excelentes anfitriãs. Mas em nenhuma tive a sensação de regresso à sopa primitiva que o Baleal me dá. A vida renasce, como o ano. E os ritos vão-se repetindo e renovando.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Espírito da quadra (IX)

Partilho com o progenitor a perplexidade perante a figura de São José, quase tão inquietante como a de Caeiro diante da "pomba estúpida". Moustaki cantou-o como ninguém e Rita Lee fez este cover que vos deixo, para preencher o espaço azul entre as nuvens e este ninho.

Depois da tempestade

Ao fim de uma data de anos, troco as uvas frescas por passas, que é como quem diz que a meia-noite do dia 31 não vai ser passada em Espanha, como de costume, mas em território nacional. Ou na 18.ª comunidade autónoma, como gosto de dizer quando o interlocutor é demasiado anti-hermanos. É um gosto voltar a contar as badaladas no Baleal... por fazê-lo em português? Também, mas, acima de tudo, por ser a minha terra, a nossa. Aquela cuja independência quisemos proclamar, certo Verão, elevando a ilha a Principado e anexando, à passagem, Berlengas, Estelas e Farilhões.

A verdade é que ligo pouco a fronteiras e sinto-me em casa em muitos lugares deste mundo. E se foi da água que mais tive saudades quando fiz de Madrid mi ciudad, ela não vai faltar durante os próximos dias, quer se espraie como um lago diante do terraço, quer ande revolta como neste vídeo que o Tomaz Bairros me enviou há tempos, quer caia do céu às bátegas como uma purificação antes do novo ciclo. Nesse caso, até pode vir acompanhada de raios e trovões. Que eu cá tenho aquecedores, chá e mantinhas e quem me console.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Boxing Day

É o que o mundo anglo-saxónico chama ao dia a seguir ao Natal, e em que o campeonato inglês de futebol tem sempre jornadas históricas. Eis algumas explicações para o nome, que nada tem de desportivo:

- era o dia em que as pessoas davam caixas com presentes aos seus empregados (ou vassalos, nos tempos feudais);
- era o dia em que os empregados chegava ao trabalho com caixas para que os patrões lá deitassem moedas, como presente de fim de ano (tipo subsídio de Natal);
- era o dia em que era dada folga aos empregados que tinham de trabalhar no Natal e que, em compensação, levavam para casa caixas com os restos da consoada do patrão;
- era o dia em que se abriam, nas igrejas, as caixas de esmolas, para as distribuir pelos pobres;
- era o dia em que se apanhava a carriça, considerada rainha dos pássaros, para a colocar numa caixa, a qual entrava em todas as casas da aldeia, para dar sorte para as colheitas do ano seguinte.

Para mim, que nunca trabalhei num Boxing Day, a data significava ir a casa da Avó Gina almoçar restos do jantar do dia 25 e aproveitar para estar mais um bocadinho com os familiares de Coimbra e do Porto, já sem a lufa-lufa do dia de Natal propriamente dito. Havia a reunião dos tios para combinar as férias do Algarve para o ano seguinte e outros assuntos do género, momento solene que fazia rir os primos se alguém levantava a voz ou se outro alguém adormecia. Depois, íamos ao cinema. Às vezes voltávamos para mais restos.

Desde há uns anos, é a Tia Babita que acolhe este "Dia das Caixas". A família continua a reunir-se na versão integral, mas nos Reis e em local alugado, que ninguém tem uma casa tão grande! O dia 26 fica para os de Lisboa trocarem presentes com quem não viram a 24 e 25. Este ano, houve dois dedos de conversa à volta de caril de lentilhas, chacuti de galinha e chouriços picantes (ainda trouxe alguns tupperwares para casa), fotografias da viagem das tias à Índia (que inveja!), doces e queijos com fartura, gargalhadas e um pôr-do-sol lindo entre o Tejo e o Atlântico (depois de publicar esta entrada, descubro que o meu pai já tinha escrito sobre o mesmo assunto e posto no blogue dele uma fotografia do poente que referi).

Mas este também foi o primeiro Boxing Day da nossa casa. E se este nome ainda recorda os inúmeros caixotes que só no início do mês terminámos de arrumar, chegar aqui não deixa de ter um sabor a prova superada. A árvore de Natal (verdadeira, com raiz e vaso) não secou, os presentes recebidos para a casa já encontraram sítio, não falhámos nenhum entre os que demos, e aqueles que trocámos sentados no chão da sala acertaram na mouche. Foi Natal nesta casa, pelo que podemos seguir viagem para um Ano Novo entre amigos, à beira-mar. A quadra dura até aos Reis, mas os últimos cinco dias já ninguém nos tira... por isso mesmo, quebremos este tom algo sentimentalão com uma cantiga que nos faz rir de um Boxing Day menos afortunado.



Grandma got run over by a reindeer
walkin' home from our house Christmas eve.
You can say there's no such thing as Santa.
But as for me and Grandpa, we believe.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Cais das Codornizes (VII)

A todos um Bom Natal, com a música When a child is born, cantada por Charles Aznavour, Plácido Domingo, Sissel Kyrkjebo e Josep Carreras, no codornizes, e pelo Saint Philips Boys Choir, no Cais.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Cais das codornizes (VI)

Agora que a meia noite se vai aproximando, os desejos de Natal vão ficando mais claros. Por isso, esta noite canta-se All I want for Christmas is you. O meu cais escolheu a versão original de Mariah Carey. No codornizes ouve-se a do filme Love actually, cantada por Olivia Olson, que tinha então 11 anos.

I won't ask for much this Christmas
I don't even wish for snow
I'm just gonna keep on waiting
Underneath the mistletoe
I won't make a list and send it
To the North Pole for Saint Nick
I won't even stay awake to
Hear those magic reindeers click

Solstício de Inverno

Hoje é o dia mais curto do ano. Quando a noite cair, agarrem a mão de alguém e ouçam esta música, ou Let it snow, ou Winter Wonderland. E dêem as boas-vindas ao Inverno, que bem merece.


Ella Fitzgerald e Louis Jordan, Baby, it's cold outside
outras versões recomendadas: Elvis Costello e Anne-Sophie von Otter,
Kenny Rogers e Dolly Parton, Bing Crosby e Doris Day.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Truta fresca da época

Ei-la, completa... é só terem a paciência de carregar sucessivamente nos vários plays. Quem tiver espírito de sonoplasta também pode tentar fazer misturas. Os executantes são Julian Rachlin, Mischa Maisky, Mihaela Ursuleasa, Nobuko Imai e Stacey Watton. O filme é de Jasmina Hajdany. Para os leitores do codornizes e, em especial, para a Ana Lobo da Costa, agradecendo as óptimas notícias que me deu ontem.

Franz Schubert, Quinteto para piano
em Lá Maior D. 667 (A truta)
1. Allegro vivace (dois primeiros vídeos)
2. Andante
3. Scherzo:Presto
4. Andantino - Allegretto
5. Allegro giusto






quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Espírito da quadra (VIII)

E ser Pai Natal por um dia? A prima lança o desafio e eu aceito. Cliquem aqui.

O voo da codorniz com Google Earth (XI)

Cliquem na imagem para aumentá-la.
Em vez de olhar o mundo de cima, a codorniz volta-se para o céu. Cassiopeia, Andrómeda e Pégaso são as minhas constelações preferidas, não sei bem porquê. E as vossas?

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Justiça seja feita

Tinha-me esquecido desta. Também é linda.

Mafalda Veiga, Cada lugar teu ao vivo

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Sunday soundbyte on Monday (IX)

Desculpem o atraso. Esta semana trago uma rapariga de quem não sou particularmente fã (nos tempos de Pássaros do Sul chamava-lhe cabrita-montesa), mas que tem uma mão cheia de canções que valem a pena. Restolho, O velho, Em cada lugar teu, Balada de un soldado e, entre outras, a minha preferida: Lume. Um concerto ou um álbum completo de Mafalda Veiga maçam-me. Uma musiquinha anima-me. Este bocadinho é para vocês... digam o que acham.

lume-soundbyte.mp3

sábado, 15 de dezembro de 2007

Espírito da quadra (VII)


Por onde quer que ande no mundo, em qualquer altura do ano, procuro um concertozinho numa igreja. De um contratenor vietnamita em Saint Julien le Pauvre (Paris) a uma missa de negros baptistas em Lexington (Carolina do Sul), passando pelos Natais de Santa Maria del Mar (Barcelona) e Saint Martin-in-the-Fields (Londres), a música ouvida nestes templos dá ao ateu que sou uma paz que, paradoxalmente, me deslumbra e torna mais lúcido.

Sexta-feira à noite, foi em Lisboa, na igreja de Santa Isabel, pela mão das equipas de jovens de Nossa Senhora, com opípara ceia natalícia incluída. Que bom voltar àquele local de tantas memórias e encontros, da Lectio Divina do Padre Zé Manel às missas de homenagem à Tia Amelinha e ao Avô Dragomir, e vê-lo cheio de gente reunida para festejar o Natal.

Que alegria nos olhos do público e dos artistas (os adolescentes eram maioria), numa azáfama social e musical trepidante. Que boa selecção musical, entre o nacional e o estrangeiro, entre o religioso e o pagão. Que graça a do Pêu a orientar o coro, e que vozes a dele e a de outros, com destaque para a Xinha. Que bebé bonito o que estava ao colo da mãe que se sentou ao nosso lado. E que bem ladeado estava este vosso amigo, que teve a sorte de ter sido convidado de duas queridas amigas (obrigado, Ana e Filipa)! Houve mais música nessa noite e mais haverá até ao Natal...

Natal-elvas.mp3

Natal de Elvas, pelo Coral de São Domingos (Montemor-o-Novo)


Ó meu menino Jesus
Que tendes, porque chorais?
Deu-me minha mãe um beijo,
Choro por que me dê mais

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Blogues à sexta (IX)

Algeroz !

Continuo voltado para blogues de gente amiga... qualquer dia esgotam-se, apesar dos muitos amigos que me apraz ter. O do Miguel Leal é criação recente: faz um mês na véspera de Natal. E é um retrato do seu autor: sensibilidade, modéstia e humildade, generosidade e capacidade de partilha, para usar as palavras do Manuel Teixeira, que recuerou neste algeroz uma secção que deixou saudades no extinto blogue do Baleal, no qual o Miguel também intervinha, no registo que em bora hora ganhou morada própria.

O blogue propõe-se escoar a angústia dos dias e reter tudo o resto que vale a pena ser retido - e olhem que cumpre. E o que retém este algeroz, nascido com o nome Desenterrem-se os mortos e rebaptizado em minha casa, por obra do acaso e de uma conversa paralela entre o Teixeira e o Rodolfo Knapič? Espantos, experiências, privilégios, paradoxos... música pirosa (como todos os que temos coração) e a poesia do quotidiano. Observador finíssimo, o Miguel fala com decoro das suas coisas e das coisas do mundo. Exemplo da sua afectividade é o facto de ter os blogues de amigos classificados não por título, mas pelo nome de quem os faz.

Vamos à ronda pelo blogue: uma dose de energia matinal a que eu chamei café e o Miguel cerveja gelada, uma piscadela de olho à ilha mais linda do mundo, berço da nossa amizade e coisas giras sobre vários Natais. Talvez devesse haver mais mensagens visíveis em cada ecrã. Por agora são sete, sugiro dez. E abraço fraternalmente o Miguel pelo prazer de ler este blogue.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Espírito da quinta

Patience (Rachel Ferguson)

Patience has its limits. Take it too far, and it's cowardice.
George Jackson (1941-1971)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Espírito da quadra (VI)

Hoje vou ver os meus três manos na festa de Natal do colégio.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Os quatro cabeleiras do após-calipso

O título desta entrada foi, se não me engano, o nome dado em português ao filme A hard day's night, dos Beatles. Mas só o pus aqui por gozo. O assunto que trago tem um título mais simples: Love. É a recriação pelo Cirque du Soleil de uma série de músicas dos Fab Four, com a colaboração de Paul e Ringo e das viúvas de George e John. George Martin, um dos vários candidatos a "quinto Beatle", tratou dos arranjos com o filho Gilles.

Vasculharam Abbey Road de alto a baixo, encontraram faixas não incluídas nos álbuns, misturaram sons e saiu um disco belíssimo, que tenho ouvido muitas vezes em viagem. Que deleite!, tentar descobrir de que música vem cada sample e redescobrir uma paixão de há muito... ontem, a RTP2 fez o favor de passar um documentário sobre Love a horas decentes. Estejam atentos, que eles costumam repetir. Se não, consolem-se com esta amostra.

NOTA: Isto só podia ser dedicado ao Tiago. Mas a Teresa (aqui e aqui) leva menção honrosa.

Espírito da quadra (V)

Comecei ontem a escrever os meus cartões de Boas Festas. É uma epopeia anual a que cada vez menos gente se entrega, mas que dá um gozo enorme. Escolher a caneta (nunca esferográfica!), deitar-me no tapete da sala, procurando um poiso abrangido pelo cone de influência do termoventilador (noutros anos foi à lareira, no Toxofal) e cuidar a caligrafia em textos breves, mas pensados para cada amigo. Manuseio com a destreza possível a lista de destinatários, a agenda e os postais propriamente ditos. Ouso antever o sorriso nos lábios de quem abrir cada envelope selado com cuidado (com selos a sério e não aquela etiqueta ordinária da estação de correios), tento adivinhar quantos vão responder... e espero placidamente pelos postais que vierem, pelo Natal, pelos presentes, pela felicidade que desejo para os outros e para mim.


A música óbvia, cantada pelos bonecos da Walt Disney.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Espírito da quadra (IV)

Larry the cable guy a cantar músicas de Natal. Um bocado avacalhado, mas algumas têm graça...

O voo da codorniz com Google Earth (X)

Voar sobre terreno conhecido tem vantagens. A segurança. A calma. As memórias. O poder matar saudades. Esta é a minha terra. Esta? Sim, como o são Lisboa, o Baleal e tantas outras. A todas me aferro, qual Anteu, para recuperar forças. Cada uma revigora um dos humores vitais. Sobre o Toxofal de Baixo ando a preparar uma coisa para outro blogue. Se hoje me apeteceu pô-lo aqui, foi porque uma entrada sobre o sabor das maçãs me recordou mais uma das minhas velharias poéticas. O título do escrito até mudou.
Toxofal de Baixo, Portugal


Maçãs

Atrás dessas telhas quentes
Há uma manta de retalhos
Com que te quero cobrir
Se a meu lado te deitares

São fazendas são hectares
Que o Sol e a chuva submetem
São dias que se repetem
Num ritmo que não se usa
No pulsar de uma rajada
No brotar de uma colheita
Que, Deus deixando, há-de vir
Antes da data passada
Antes que o tempo que impera
Traga outra Primavera
Traga outro campo de azedas
Para o gado com placidez
Ruminar num devaneio

Atrás do telhado onde a gata
Dorme sem credo nem dono
Há poesias à espreita
E há maçãs verdes à espera
Que alguém sedento de um seio
Lhes vá provar a acidez
Que nessa manta difusa
Tudo tem a sua vez.


Lisboa, 27 Janeiro 1996

domingo, 9 de dezembro de 2007

Sunday soundbytes (VIII)

Mais uma para a quadra. Porque todos merecem ter um Bom Natal. A faixa é de Frank Sinatra e chama-se The Christmas song ou Chestnuts roasting on an open fire.
chestnuts.mp3

Espírito da quadra (III)

Música de Natal no tom pacífico de um fim de tarde de domingo.


Barbara, Joyeux Noël

Há-de vir um Natal

Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira, in Cancioneiro de Natal

sábado, 8 de dezembro de 2007

A 8 de Outubro este blogue era assim

Dois meses é pouco, mas é pretexto para ouvirmos uma vez mais o nosso hino oficial, que é uma das músicas mais bonitas do mundo. Desta feita, na voz de Perry Como. We're after the same rainbow's end / Waiting round the bend.

Perry Como - Moon ...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Um poema com dez anos...

...mas que ainda não morreu. É para os leitores do codornizes, que a meio desta noite chegaram aos cinco mil. Parabéns a vocês!

Eu em Valmitão (foto de SK, Outubro 2007)


Contra o poente

Na tarde em que me procuro
a luz bate em janelas ociosas
e há um rio
Como num quadro onde não quis que me pintassem
as elegias tornam-se porosas
e dou-me conta de que o traço é azul

Rumor nas águas
respondem-me às falácias com vertigens
e enchem-me o olhar de curvas em perfeito movimento
como acácias
são sustos nesta ilha que às vezes sou
como eucaliptos

Às vezes eu queria que o tempo não passasse
durmo em céus fragmentados de Monet
entre ocres térreos, nuvens férreas, sons que alguém produz
cresce-me um querer ficar
um deixar-me ir
e um sol mais lento, que este já se pôs

Lisboa, 6 de Março de 1997

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Blogues à quinta (VIII)

Prohibido fijar carteles

Mais um blogue espanhol, mais um blogue de um amigo. Luis Felipe Torrente recolhe o que outros vão deixando pelas paredes de Madrid e não só. Cartazes, graffiti, inscrições, divisas ou desabafos sobre fundo de betão ou tijolo povoam este espaço divertido. A actualização não é diária, mas de vez em quando vêm uma data de entradas em catadupa.

O vol d'oiseau habitual revela-nos uma fuga à rotina para homenagear o Turner deste ano, uma carta ao futuro, dois cartazes vintage de um bairro que conheci melhor com o ilustre blogueiro, um alívio lisboeta e heresias como esta e mais esta.

Jornalista da televisão Cuatro, apreciador de boa comida, bons copos e bons livros, o autor deste blogue gosta muito de Portugal e o português ibérico que sou também gosta muito dele. Un abrazo, Luis!

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Peso

As estátuas de reis e nobres da Plaza de Oriente, em Madrid, foram pensadas para adornar a cornija do Palácio Real, ali ao lado. A ideia foi abandonada devido ao seu peso: percebeu-se, mas só mais tarde, que era excessivo. Podiam cair e matar alguém que ali passasse. Acabaram por ir para o jardim e lá estão, em pedestais de onde têm menos hipóteses de cair. A não ser que alguém adormeça num daqueles bancos de pedra durante um terramoto (longe vá o agoiro!), podemos considerá-las inofensivas. Embora o improvável não seja impossível, claro.

Baú das codornizes (IV)


Santa Claus, the Movie (1985)

Vi este filme em Oxford, há mais de 20 anos. É delicioso. Claus e Anya são um casal que costuma entregar presentes aos miúdos pobres da sua aldeia. Vão num trenó puxado por renas e tudo se passa no século XIV. Apanhados por uma tempestade de neve, salva-os da morte um grupo de elfos liderados por Dudley Moore. E assim nasce o Pai Natal. Ah, e a Mãe Natal, sem a qual...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Cais das codornizes (V)

Durante esta quadra natalícia, o Cais das Codornizes só vai passar música de Natal. Às vezes é difícil escolher apenas duas versões, mas vai ser bom partilhar este gosto musical. Estas músicas que só ouvimos em Dezembro têm o condão de criar um cenário maravilhoso, por vezes até parece que neva... vamos lá à primeira, muito especial, habitualmente cantada a duas vozes, as nossas, em viagens de carro, estrada fora. Winter Wonderland cantada pela Macy Gray no Cais e pelos Eurythmics no codornizes.


When it snows, ain't it thrilling,
Though your nose gets a chilling
We'll frolic and play, the Eskimo way,
Walking in a winter wonderland

Espírito da quadra (II)

Os enfeites de Natal apaixonam-me. Sempre adorei fazer a árvore de Natal (abeto natural, perdoem os ecologistas), em tempos com os meus pais e a minha irmã, mais tarde com primos mais novos, depois com mais irmãos e este ano, pela primeira vez, numa casa que é minha. Nossa. E que tem três árvores de Natal: uma a sério, uma de armar que era da minha bisavó e uma insuflável!

Formidável metamorfose a desse esqueleto verde, que começamos por enredar num fio de luzes (sem música irritante, por favor). As bolas, sinos, estrelas, anjinhos, renas e Pais Natais pendurados nos ramos nunca foram, lá em casa, de uma só nação. São testemunhos de viagens, trabalhos escolares ou domésticos, presentes de amigos ou objectos cuja origem já se perdeu. Dizem lindamente uns com os outros.

Há, depois, a coroa para pôr na porta. Recomendo as da Isabel florista, do mercado de Arroios, com pinhas, castanhas e azevinho. A nossa deste ano é menos artesanal, mas muito divertida, com um boneco feito dessa neve que nos falta. Finalmente, encanto dos encantos, as luzes e velas espalhadas pela casa por mão amorosa e o calendário do advento, com chocolatinhos para ir comendo até ao grande dia.

PS: Já publicada a entrada, reparo que alguém colou sinos e flocos de neve em feltro na porta da redacção onde trabalho. E sorrio.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Espírito da quadra (I)

Na mesa de Natal há sempre - e não está a mais - um prato das filhoses. Mas o Natal também é ocasião para celebrar o oposto do prato das filhoses: aquelas pessoas que estão sempre onde é preciso quando é preciso.

O voo da codorniz com Google Earth (IX)

Nazaré, Portugal

O voo desta semana leva-me a uma falésia escarpada que vale a pena subir, galgando degraus incontáveis ou vencendo o medo que dá o ranger do funicular. É uma terra linda, que as hordas do fim-de-semana tornam inóspita sem lhe roubar beleza. Mar fero. Um perfil desenhado contra o pôr do sol. Ou, mais atrás na memória, saudades de arrastar duas cadeiras até uma pequena varanda de cal, muito perto do Sítio, e de ficar horas à conversa com a anfitriã, sem quase pudor. Um poema dessa altura:

Nazaré

pode já não haver banhistas de roupão
mas há a montanha e o fim que não se vê
ou este canto, uma toalha no muro e o resto do sol

posso já não te encontrar na Nazaré
mas há o norte todo e as bolas de Berlim
ou desmentir a noite para que um dia não chores

podem ser quartos rooms e espalha a roupa
mas há vezes sem pressa em chambres zimmer
ou sobremesas de manga e a manga na mesa porquê

podemos não saber nada deste chão
mas há falhas com a textura do teu pé
ou o sítio das pernas que a arriba não poupa

pode não dar jeito ser permeável às cores
mas há o mar todo para salgar dom fuas
ou não dá para ser roupinho e ficar a ver de cima

podes já não saber bem ao que vim,
mas há de novo as pernas e quero-te nas duas
ou entra no mar e veremos que onda te engole


Toxofal de Baixo, 18 de Novembro de 2000

domingo, 2 de dezembro de 2007

Sunday soundbytes (VII)

It's beginning to ...
Perry Como, a abrir o Natal na altura certa!

sábado, 1 de dezembro de 2007

Amor na voz

As promessas são para cumprir... serve isto para dizer que, como anunciei, o codornizes tem a honra e o prazer de apresentar a voz e o talento de Ana Knapič. Também ela uma promessa que queremos ver cabalmente cumprida na música portuguesa, na vida, no amor. A canção é Palpite, composta por Adriana Calcanhotto, mas também cantada por Vanessa Rangel e Ana Carolina. E, já agora, por Ana Knapič!
Nota: O Natal instala-se no codornizes... entrou pelo cabeçalho, mas vai chegar à música, às imagens e aos textos. Aceitamos colaborações e sugestões. Boas festas!