...mas que ainda não morreu. É para os leitores do codornizes, que a meio desta noite chegaram aos cinco mil. Parabéns a vocês!
Eu em Valmitão (foto de SK, Outubro 2007)
Contra o poente
Na tarde em que me procuro
a luz bate em janelas ociosas
e há um rio
Como num quadro onde não quis que me pintassem
as elegias tornam-se porosas
e dou-me conta de que o traço é azul
Rumor nas águas
respondem-me às falácias com vertigens
e enchem-me o olhar de curvas em perfeito movimento
como acácias
são sustos nesta ilha que às vezes sou
como eucaliptos
Às vezes eu queria que o tempo não passasse
durmo em céus fragmentados de Monet
entre ocres térreos, nuvens férreas, sons que alguém produz
cresce-me um querer ficar
um deixar-me ir
e um sol mais lento, que este já se pôs
Lisboa, 6 de Março de 1997
12 comentários:
"(...) durmo em céus fragmentados de Monet
entre ocres térreos, nuvens férreas, sons que alguém produz"
Não era preciso mais que escrever estes versos parme inquietou na sensação de fugacidade das emoções, que empalidecem na memória até se apagar se não as fixarmos com os nossos instrumentos, sejam pigmentos espalhados numa tela, um conjunto de acordes, ou no teu caso, belíssimas palavras.
Dez anos depois, esse crepúsculo continua a brilhar. E a afluência de leitores é mais que justificada :)
Besos!
Eu e os teclados temos uma relação de amor-ódio, volta e meia deixo metade das frases por escrever :S
Reescrevo a frase incompleta: Não era preciso mais que escrever estes versos para me cativar, sempre me inquietou (...)
Desculpa o engano e bom fim-de-semana :)
É grande a tentação de captar o momento fugaz. Tentavam-no Monet e os impressionistas, tenta-o quem tira uma fotografia (a Polaroid é a imagem que mais se adequa a esta noção de instante), tento-o eu neste blogue e na vida, sempre atento às traições do teclado ou do computador central, vulgo cérebro, a que o coração tanto confunde. Ainda bem que gostaste do poema, isso dá-me alento para continuar a escrever... e a divulgar. Otro beso.
Nada como ter um báu cheio de escritos antigos e sentimentos renovados.
Continua a reeditar o passado, a descrever o presente e a anunciar o futuro.
Obbrigado pela visita ao "Eldorado" e um abraço.
Pode ter 10 anos, mas está muito bom.
Gostei!
Com Monet, conseguimos sentir o seu sol a tocar-nos no ombro e conseguimo-nos refugiar na sua sombra. Impressionante!
Vi o mais fantástico pôr-do-sol no Brasil, em Fernando de Noronha, no meio de um forte em ruinas, cheio de sombras e plantas que invadiam todos os cantos! Fosse eu Monet...
Um poema actualíssimo (o que é bom resiste sempre ao tempo), prometendo já o poeta pleno que és agora. Para quando, o primeiro livro de poemas?
Parabéns, e também pelos 5.000 visitantes. Todos merecidos.
Beijos
Um poema com 10 anos??? Deixa-me fazer as contas...irra, que precocidade, que talento!
Parabéns!
A complexidade de existir fixada em instantes.
Jp, Piedade (bem-vinda!): do baú vão saindo coisas, para que a pena se ponha a mexer e dela saiam coisas novas. Gosto é de deixá-las um tempo em vinha d'alhos...
Su, é bom poder gozar um bocadinho de um sol que hoje, por exemplo, não parece ir haver a rodos. Ou de uma sombra protectora que tantas vezes se procura em vão. Os artistas dão-nos isso. Talvez alguns poemas sejam também a procura da protecção que a vida nem sempre nos concede.
Ana, para ti não há obrigados, há doces. Muitos. De Natal. Para recolheres quando quiseres. Livro? Talvez um dia, isto do blogue é um primeiro passo para ganhar coragem e foi só porque houve uma pioneira... olha, para a semana vou a um lançamento, é capaz de me inspirar!
Miguel, não sei se mereço o que escreveste, mas soube-me bem. Só posso agradecer continuando a trabalhar. Um abraço!
Addiragram, a complexidade de existir, sempre ela, n'est-ce pas? Fixada, vivida, mas nunca totalmente compreendida!
Parabéns ao 'Codornizes' e ao Huck :)
Hip Hip
Quanto aos posts mais musicais... hei-de arranjar maneira de ouvir isso, ´tá? (Rai's partam este portátil...)
Beijinhos
Obrigado, sf... Quanto aos problemas técnicos, disso nao pesco grande coisa!
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