Ladainha dos póstumos Natais
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido
Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito
David Mourão-Ferreira, in Cancioneiro de Natal
domingo, 9 de dezembro de 2007
Há-de vir um Natal
Publicada por Huckleberry Friend à(s) 10:27:00
Etiquetas: david mourão-ferreira, natal, poesia
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5 comentários:
Pois é, o David tinha este maravilhoso ritual: todos os anos escrevia um poema de Natal, pelo que existe uma enorme colecção deles, lindos como este. Não sei se existe a recolha destes poemas num livro, suponho que sim. É uma óptima sugestão de presente de Natal.
Um beijinho
Não reparei na fonte que citas: "Cancioneiro de Natal". Provavelmente é o tal livro de que eu falava...
É provável... eu não tenho este livro, mas a Obra Poética inclui o Cancioneiro de Natal. Também tenho, e prometo aqui pôr um dia, um CD gravado pelo filho do David, quando ele já estava doente, a ler vários poemas, entre eles esta ladainha, que na voz dele é de arrepiar. Beijo.
É excelente este poema do DMF. Como ele, só.
Vim conhecer-te, meio à pressa porque é tarde. Voltarei com mais tempo.
Obrigada.
Beijo
Serás sempre bem-vinda. E ainda bem que gostaste do poema. Beijo.
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