Voar sobre terreno conhecido tem vantagens. A segurança. A calma. As memórias. O poder matar saudades. Esta é a minha terra. Esta? Sim, como o são Lisboa, o Baleal e tantas outras. A todas me aferro, qual Anteu, para recuperar forças. Cada uma revigora um dos humores vitais. Sobre o Toxofal de Baixo ando a preparar uma coisa para outro blogue. Se hoje me apeteceu pô-lo aqui, foi porque uma entrada sobre o sabor das maçãs me recordou mais uma das minhas velharias poéticas. O título do escrito até mudou.
Toxofal de Baixo, PortugalMaçãs
Atrás dessas telhas quentes
Há uma manta de retalhos
Com que te quero cobrir
Se a meu lado te deitares
São fazendas são hectares
Que o Sol e a chuva submetem
São dias que se repetem
Num ritmo que não se usa
No pulsar de uma rajada
No brotar de uma colheita
Que, Deus deixando, há-de vir
Antes da data passada
Antes que o tempo que impera
Traga outra Primavera
Traga outro campo de azedas
Para o gado com placidez
Ruminar num devaneio
Atrás do telhado onde a gata
Dorme sem credo nem dono
Há poesias à espreita
E há maçãs verdes à espera
Que alguém sedento de um seio
Lhes vá provar a acidez
Que nessa manta difusa
Tudo tem a sua vez.
Lisboa, 27 Janeiro 1996
6 comentários:
Existe sempre algo no fundo de uma gaveta com muita utidade e significado tal como este lindo poema.
Bom início de semana
Bjs Zita
Gostei da visita... e acrescentei o teu Espaço à minha lista de linques. Volta sempre, que o meu ninho está numa fase em que a poesia racha a casca do ovo! Beijinhos...
mais um belíssimo poema de um muito, muito jovem poeta.Quanta sensibilidade e maturidade e originalidade.
Abraço, Miguel. É bom ter amigos como tu.
A tua terra, e a minha terra. Cada vez mais.
Abraço.
Foste uma das grandes aquisições dos últimos tempos, amigo. Um abraço forte.
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