sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A carol a day keeps the doctor away (XIV)


Pela primeira vez em 30 Natais, comprei um presente para mim. Comecei a contar a história há dias, mas, para abreviar razões, cá vai: havia uma cassete de que eu gostava muito, com crianças a cantar carols. Deram-ma os meus pais, quando vivíamos em Oxford, e muitas daquelas canções eram as que nos ensinavam na escola.

Um dia, a cassete sumiu da gaveta onde a ia buscar todos os anos... e nunca mais ninguém a viu. No início deste mês, ao assumir a minha natureza periódica de carol-junkie, tentei que a Net colmatasse a impossibilidade de reaver o artefacto perdido. Não me lembrava do nome do coro, só do título do álbum. Mas Christmas for everyone é, convenhamos, uma expressão comum, que está nos votos natalícios de meio mundo. Quando a googlei, os resultados eram asfixiantes.

Lembrava-me, por sorte, de que o disco tinha duas músicas que não aprendêramos na escola. Eram originais. E se o nome de uma delas era o mesmo do álbum - inútil, como vimos, para efeitos de pesquisa -, a outra dava mais alento. Conduziu-me aos leilões do eBay, onde encontrei o tesouro perdido e fiz um lance vitorioso.

Vinte e dois anos depois da primeira audição, a cassete sumida torna-se LP, o nome do coro de uma escola católica de Stockport ressurge do emaranhado das sinapses, as vozes lindas e as orquestrações renascem como se as tivesse ouvido ontem.

Autopresentear-me talvez não seja muito do espírito da quadra, mas não me arrependo nada. Até porque a dádiva pode ser partilhada. Com as meninas cá de casa, que adoraram. Com a minha irmã, que gostava como eu da história do Little Donkey que leva Maria gravidérrima até Belém. E convosco, dando a ouvir duas canções que não encontrarão noutro lado: as que permitiram alcançar o fim da gesta.



Saint Winifred's School Choir, In a lowly stable



Saint Winifred's School Choir, Christmas for everyone

Boas Festas, everyone!

5 comentários:

Maria disse...

Agora vou rever as carols todas... pois claro...

Bom ano para ti e todos aí em casa.

ana v. disse...

Que bom teres encontrado, Huck, essas memórias dos Natais de infância são sempre mágicas.
Um beijo e parabéns pela conquista do teu graal natalício!

Huckleberry Friend disse...

Obrigado, Maria. Até ao Dia de Reis, prometo continuar a encher a blogosfera de música de Natal! Beijinho.

Ana, adoro estar com o máximo de amigos e familiares no Natal, mas cada vez mais me convenço - et pour cause, este ano - de que as crianças é que são o propósito de tudo isto... recordar a felicidade de Natais passados e recuperá-la em objectos concretos serve para construir Natais futuros. É disto que se faz o espírito da quadra e são estes gestos e memórias, mais do que os presentes, que quero transmitir à minha filha... para ti, um beijinho grande e tudo de bom para 2009!

Virginia disse...

Tens razão, Huckie, sem as crianças, fica o Natal mais pobre.

Há três anos o meu filho João vestiu-se de Pai Natal e apareceu para gáudio, surpresa e um certo temor do filho Daniel que tinha dois anos. As fotos que tenho aqui comovem. Pouco tempo depois, dizia ele gravemente: Aquele Pai Natal fazia-me lembrar o meu Pai...não sei porquê.

Nunca mais se repetiu a mesma cena por razões várias e julgando nós que ele já não acreditaria no PN, ficámos boquiabertos quando anteontem ele perguntou: O Pai Natal não vem hoje?
Estava tristissimo com a ideia do PN não se ter lembrado dele. E acrescentou com uma carinha triste: Pois é, eu não lhe mandei nenhuma carta desta vez...a culpa foi minha.

Para o ano vai haver PN nem que seja eu a travestir-me....:)))

Huckleberry Friend disse...

Também eu fui Pai Natal várias vezes, Tia... em casa da minha Mãe e na da Avó Gina. O número deleitava os primos mais novos, mesmo quando já me reconheciam sob o disfarce. Tanto assim foi que, ao fim de dez anos, passei a pasta a outro, ansioso por assumir a personagem. E lembro-me de, em miúdo, ficar à espera do Pai Natal, antes e depois de saber que "ele" era a minha Tia João. Houve dois ou três anos em que a Filipa e eu já éramos crescidos para haver Pai Natal e os outros primos ainda eram bebés. Nesses Natais, confesso, senti saudades do velhote das barbas...

Beijinhos a todos e até breve!