domingo, 19 de outubro de 2008

Adeus, Mirita

Hei-de olhar à volta da cozinha velha antes de pôr a fruta ao lume. Não propriamente à sua procura. Sei, desde há muito, que não volto a vê-la encostada à mesa de ardósia, o sorriso nos lábios e ainda mais no olhar azul. Mas sei, desde sempre, que vai estar connosco, todos os anos, na odisseia das compotas, marmeladas e geleias. Prometo acompanhar de um sorriso o suspiro que hei-de lançar. Onde quer que esteja, Mirita, quero que sinta o cheiro do açúcar a ferver, à procura de um ponto que aprendi consigo. Um beijinho grande, querida amiga.



Elton John, Skyline pigeon


For just a skyline pigeon
Dreaming of the open
Waiting for the day
She can spread her wings
And fly away again

8 comentários:

Mário disse...

Era ela. Apenas ela. Sem pretender ser mais, mas sem ser menos.
Com o seu andar atarefado, gordinha, verdadeira "Dona Redonda", para quem leu os livros de Virgínia de Castro e Almeida.

Não era comparável com ninguém, a não ser com a Mirita. Ainda ontem passei á porta dela, no Toxofal. E sem saber que já tinha partido, pensei no Senhor Augusto e como tinha sempre uma anedota debaixo da manga para quando lhe ia medir a tensão.

Estou pouco preocupado com o que não vivi no "depois" - porque sstou muito mais interessado no que pude absorver e aprender no "durante".

Até sempre, Mirita! Com um beijinho, como gostava - um bocadinho "repenicado".

Anónimo disse...

Huckle, a tua Mirita, lá, em casa dos meus pais (vai ser sempre a minha casa, digo-te a sorrir) era a Rosinha.
Redondinha,muito pequena.
Por esta altura, era um cheirinho a marmelada pela casa, e, eu, piolha, de volta dela, gaiata, a querer ver. Ela só me dizia que eu saísse, que aquilo tinha o demo...rsss...que saltava, que me podia queimar...
Uma altura, depois de cheias as tigelas, tapadas com papel vegetal e postas a secar no parapeito da marquise, ela deixou a panela para lavar. Aqui a tua amiga era muito gulosa e não teve cá meio termo. Nem deixou arrefecer! Pensou ela lá nisso! Foi mesmo com a grande colher de pau. Rapou a panelona. Calculas como fiquei? Que grande dor de barriga, tanto enjoo, Deus Meu!
Durante anos, era um riso! ("malvadas", a minha mãe e ela, a minha Rosinha...rssss!) porque eu nem podia sequer sentir o cheiro da marmelada, e, ela, marota, dizia:
-Venha, menina, venha! Não quer um bocadinho?
-Ai agora o diabo já não me queima?
E fugia, tal o enjoo que sentia!
Saudade boa, esta!

Adorei este pedacinho, Huckle!

Beijitos para os três.
Que delicia de sensação, não é? Perdermo-nos a olhar o querubim tão nosso!
Saio em bicos de pés para não acordar a vossa cria mais linda!
Sonhos bem coloridos para ela e aproveitem que esses momentos são a maior das ternuras!

Com carinho, muito,
Cris

Virginia disse...

Não me lembro de Miritas nos nossos dias, mas ainda tive empregadas que faziam marmelada em casa e eu adorava as compotas, o cheiro, o borbular do açucar com os marmelos, a cerimónia da secagem nso parapeitos dass janelas em tigelinhas antigas da minha sogra....

Agora por causa das calorias já nada disso se faz aqui. todos querem emagrecer....:))) e as compotas ficam esquecidas e bolorentas. A pity!!

purita disse...

nham nham!

João Paulo Cardoso disse...

Foi quando comecei a achar que as nuvens eram açúcar em calda que concluí que também se faziam bolos lá no céu.

Um abraço.

Anónimo disse...

João,adorei este teu comentário!
Sabes que a Rosinha (não sei se leste o que contei...rsss) fazia uma sobremesa deliciosa que eram as Nuvens.
Eram claras em castelo com doce de ovo delicioso por cima. A minha mãe chama-lhes Farófias (é assim que aquela sobremesa é conhecida na Beira Alta-Gouveia)
Bom, de cada vez que a Rosinha as fazia, eu convencia-me que ela tinha ido buscar as nuvens ao céu, e, ela não me desmentia, deixava-me naquela fantasia de garota!
Ainda hei-de provar um pedaço de nuvem, mesmo! Será que não será mesmo de calda de açúcar?
Vamos pensar que sim.

Beijo para ti, e, Huckle, desculpa ter ocupado este espaço,para falar com o João mas não resisti ;-)

Vês o que dá termos tido as nossas "Miritas"?
Fazem-nos deliciar, recuar e sentirmo-nos ganapos, de novo.
Bem a propósito, agora que têm uma Helena que vai adorar estas histórias giríssimas!

Mil beijos e tudo de bom.
Passa lá no meu novo espaço :-)
A ver se gostas e se funciona melhor que o outro :-))) Ainda usas o I.Exp? Ou já estás com o Firefox?
Fico à espera da tua opinião, 'tá?

Aproveitas quando a pimpolha estiver a dormir e dás lá um saltinho.

Rss

Cris

Anónimo disse...

Huck e Sofia:
O que há sempre para mim é VIDA!
Não se vai a vida se há quem nos ame.
Estou aqui há muito a ouvir a música lindissimamente escolhida, para homenagear a vossa Mirita.

E a pensar num modo de dar Parabéns a ti e à minha querida Sofia.

Quero mandar um cartão para os dois pois li a notícia na nossa querida Ana.
Mas chego aqui e perdi-me em ver que és realmente magistral em fazer um homenagem *doce* para além da Vida.
Olha, tenho vergonha em escrever diante quem tão bem sabe.
Com um obrigada por tudo, ao casalinho mais *super duper* da Net:-)
Bejos em q.s.b para repartir pelos três.
Helena deve ser linda, mais que linda.

Huckleberry Friend disse...

Pai, uma amizade daquelas não há tempo nem distância que a destruam! Beijinho.

Cris, é bonito descobrir memórias como as nossas. Adoro a imagem do pátio do Toxofal com as marmeladas em cima do forno, dos parapeitos, do telhado até, a apanhar sol e a ficar mesmo como eu gosto: durinha, vermelhinha. Beijos.

PS: As "nuvens" da Rosinha chamam-se, no Toxofal, "Ilha dourada". Quem as faz é a Maria, outra preciosidade que resiste ao tempo.
PPS: Adoro que os comentadores do codornizes entrem em diálogo. O ninho tem muito mais piada quando me foge da mão!

Tia, é um ritual alquímico que gosto de repetir, todos os anos. Nada de Bimby nem panela de pressão: gosto dos tachos velhos, da colher de pau, do Salazar para rapar. Mas descanse, que há-de chegar-lhe o quinhão deste ano. Porque se há coisa tão boa como fazer compotas, é oferecê-las! Bjs!

Purita, lolol!

JP, se nos próximos dias um pingo de chuva te parecer mais peganhento, doce ou meloso, foi a Mirita que voltou para junto do fogão... abraço!

Meg, és tu quem nos deixa sem palavras... um beijo, só!