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Fica na pontinha da ilha onde nasceu a Cidade-Luz, com o Pont Neuf - o mais velho de todos - a delinear-lhe a estrema. É pequeno, mormente à escala de Paris, mas veremos que é grande. A pequenez deste quarto de hectare resulta da concatenação de pequenezes ainda mais pequenas, ilhotas que houve no Sena em tempos idos. Numa delas, foram queimados os últimos templários.
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Tinha 10 anos quando visitei Paris pela primeira vez, com o meu Pai, a minha irmã Filipa e a Avó Gina. Apaixonada pelo Vert Galant, foi ela que me contou a história deste jardim, uma de muitas. E que guiou os meus primeiros passos pela cité, do alto da Torre Eiffel (que detestava) aos estaminés dos pintores da Place du Têrtre, do impressionista Quai d'Orsay à impressionante Sainte-Chappelle, y compris Louvre, grands boulevards, Quartier Latin, bouquinistes e esse bolo de noiva a que chamam Sacré-Cœur.
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Há que explicar que o meu Pai ia em trabalho e só se nos juntava ao fim da tarde. Durante o dia, a Avó metia-se connosco no métro e lá íamos calcorrear Lutécia. Nós delirámos e ela também. Já voltei à cidade muitas vezes e em nenhuma deixei de sentir saudades dela e daquela estreia prodigiosa. Sempre bem disposta, aguentou uma suspeita de bomba no avião à ida (palavra!) e, com ainda maior estoicidade, ensinou Paris a dois netos frenéticos (os 11.º e 14.º dos 21 que tem, sendo que os bisnetos serão 26 antes do fim do ano). Se fosse viva, a minha Avó faria hoje 90 anos. Este apontamento sobre o seu querido Vert Galant é o beijinho de parabéns que gostava de poder dar-lhe.
NOTA: As fotos são, por ordem, de Robert Doisneau, Eugène Atget e Marcel Bovis
8 comentários:
Pois vais busacr fotografias ao Robert Doisneau e não pedes ao Mário Cordeireau.
Estive na pontinha do Vert Galant, há dias, a respiraar o ar intenso e a relembrar os teus avós, que sempre que iam a Paris faziam uma jura de amor nesse ponto tão enigmático de Paris.
Tu sabes, porque tiveste o privilégio de passear com ela (até ela perder dois kilos por dia!), inclusivamente teimando que a Bastilha ainda existia e querias ver as ruínas - e ela o privilégio de passear em Paris contigo e com a tua irmã. Bons tempos, Setembro de 1989, dito assim parece até antes da Guerra de 14-18.
90 anos, pois é, o tempo passa. E lembras-te do empregado do Hotel, que passou a tratar-nos como reis depois de recebermos a visita do Embaixador de Portugal? De pedintes a "onorevole" em menos de um fósforo.
Já não contarei aqui algumas das tuas birras dos dez anos de idade, mas relembrarei o particular interesse pelo "mot de Cambronne"... na estação do dito.
Tenho saudades. Da tua avó, de Paris, de ti.
Beijinhos, meu filho "primogénito".
Lembras-te da ameaça de bomba correspondente a uma mala de 20x20 centímetros (minúscula, pois) que um tal Monsieur Ubu, passageiro da Air France, teria enviado no porão (ainda mais estranho, dadas as dimensões da dita), e cujo não se encontrava a bordo?
Tivemos que fazer o reconhecimento das nossas malas e consta que fizeram explodir o petit paquet do monsieur.
Tudo isto em Setembro, mas antes do 9/11...
PS. corrige os erros ortográficos do comentário anterior, que estou a escrever de um cyber café, tipo taxímetro - o preço exploratório destes ingleses não dá para rever textos!
Bonita homenagem, Huck. A Paris e à tua avó.
Beijinho
É destas memórias que se faz a nossa "arqueologia" afectiva! Linda homenagem a uma avó linda! Beijinhos para ti.
Quando me olho ao espelho vejo traços da tua Avó...o Charles Aznavour diria: Voilá tu ressembles à ta Mére!, em tom depreciativo. Para mim não é.
Gopstaria de me parecer com a minha Mãe, tua Avó, pois ela foi para mim um exemplo de vida e sobretudo da alegria de viver.
Quem me dera poder pegar no telefone a dizer-lhe das coisas bonitas que se passam, as pequenas e grandes que todas lhe interessavam...
Que me dera, Pedro....
Bicas
Pai, este comentário foi merecidamente elevado a entrada. Acho que isso basta como resposta ;) beijinhos e obrigado!
Ana, obrigado e um beijo também.
Addiragram, gostei particularmente da expressão "arqueologia afectiva". É uma actividade a que gosto de me dedicar. Beijinho!
Olá, querida Tia Bicas! Bem-vinda a este ninho de codornizes e parabéns pela estreia. Comoveu-me a evocação da alegria de viver da Avó. Testemunhei-a nos momentos que partilhámos e no brilho que lhe inundava os olhos ao contar-nos as histórias da infância dela, das viagens com o Avô, dos filhos, dos netos, da casa grande do Restelo, etc. Ou de cada vez que pegava num bisneto ao colo. É nossa obrigação dar a conhecer o seu legado àqueles que já não tiveram a sorte de conhecê-la. Beijinhos grandes!
Ia apenas olhar, pois é uma comemoração evocativa em família.
Mas, como li ai a Ana, deixo aqui também meus parabéns e a fascinação pelos belos resultados evocativos.
Sim, que expressão bela e apropriada: arqueologia afectiva!
Um grande beijo
Meg
Querida Meg, é sempre tão bom ler os teus comentários ;) como vai tudo desse lado do charco? Por aqui as comemorações familiares continuam, agora no tempo futuro! Beijinho grande.
Huckleberry Friend
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