segunda-feira, 21 de julho de 2008

Thank you, friend

Retribuo, sir, o tratamento que usou para se nos dirigir. Não levo a mal a ausência da famosa gabardina azul - que teria feito, não obstante, as delícias da queridíssima M., e ela merecia -, percebo que esteja até ao último cabelo grisalho de contar o blowjob que a Joplin lhe fez na unmade bed do Chelsea Hotel, compreendo que não se queira chamuscar de novo nas chamas que perseguem Joana d'Arc. Playlist quasi-perfeita.

A noite, que ainda o não era quando nos lançou o convite para dançar até ao fim do amor, tomando valsas, baladas, hinos e diatribes como um pássaro na corda bamba, foi suave, intensa, classy e emocionante. Opinião unânime entre os onze que acabámos pos ser (uns usaram palavras, outros gestos, à falta delas). E dos outros 8989, suponho. De um lado, o sol a inclinar-se cada vez mais. Do outro, a torre da doca, num ângulo imutável e tão elegante quanto os requebros ocasionais de V. Ex.ª, enquanto ia levitando gerações.

Supérfluos todos os agoiros relativos ao recinto e à acústica (mea maxima culpa. Risíveis os tocantes à sua forma física, friend, à voz que enleva, às putativas comparações com visitas de há décadas e cuja memória haveria, dizem, que preservar (nisto nunca alinho e até acho um bocado pedante). Foram excelentes, toda a gente sabe, que dúvida cabe? Já aqui contei a birra que fiz por não ter podido ir ao Coliseu... mas, ainda a confirmar-se a infirmada possibilidade de o senhor já não estar à altura, esquecer-se-ia alguém de noites passadas? Deixaria esta de ser memorável?

Cantámos. Unimos as vozes e o fôlego, para irritação de um indivíduo a quem tive de explicar que, para ouvir os artistas sem um belisco, é melhor ficar em casa e pôr um disco. As letras - belas e nada fáceis - vinham ter connosco. E @ parceir@ do lado servia de ponto ou cábula.

Dançámos. Com violinos em chamas, do alto da torre da canção - que já não sei se fica em Manhattan ou Berlim - à capela de Nossa Senhora do Porto, passando pelas democracias do futuro e cruzando-nos com a mulher do cigano, que nos garantiu não haver cura para o amor.

Ficaram-lhe bem, caro poeta, a simpatia para com o público e a deferência para com os que pisaram o seu palco. Exímios instrumentistas, angélicas meninas de coro, munidas de harpa e tudo. Os encores também foram bem escolhidos, e ninguém contestará que a canção bíblica (do Livro de Rute) é uma maneira de dizer adeus... isto admitindo que exista uma forma ideal de nos despedirmos de si, colocando a hipótese académica de que pudesse haver um voto contra num referendo ao público para saber quem queria que as três horas com que nos brindou se alargassem para quatro ou cinco...

...obrigado, Leonard. Valeu a pena esperar 20 anos.

Para uns recordarem e outros se consolarem, aqui fica o alinhamento de sábado passado, com vídeos da digressão que passou por Algés. A negro, filmes do nosso concerto.

Primeira parte


Primeiro encore

Terceiro encore

14 comentários:

Sofia K. disse...

Com toda a magia e rigor de sempre!

Este está no Top 3 dos nossos concertos, não está?

Belíssima entrada.

beijinhos ao meu Cohen de estimação

M. disse...

oh:') tão bonito. acho que conseguiste descrever a magia toda que pairava ali. não conseguia. estou a espera para por um dos meus videos tremidos e com a minha voz esganiçada " its a cold and its a broken hallelujah!!"
marianas, susanas, janis, o senhor merece o universo inteiro. um charme aos 73 anos , uma voz das profundezas que nos vem conhecer o âmago sem pedir permissão e a beleza é palavra do dia, ou da madrugada. fala em violinos que ardem e de pombas esperançosas, de filhos que ainda virão. é um fervilhar de religiões e a boémia nua a pedir algum amor.

You left when I told you I was curious,
I never said that I was brave.

gravei esta parte e arepiei-me quando revi.

obrigada pela companhia* é bom saber que alguém é tocado pelo mesmo. obrigada ao cohen. se tivesse chapéu tirava.
e terminar na portugália a tagarelar e cantarolar a gabardin azul foi um óptimo fim de noite*
beijinho*

Por entre o luar disse...

=) beijinho e sorrisO*

MariaV disse...

Aiquinveja! De não ter lá estado e de não ser capaz de fazer posts destes!
Beijo

-JÚLIA MOURA LOPES- disse...

por acaso, ao lê-lo fiquei com pena :-(

bela crónica, Hucl!

Virginia disse...

Huck, Huck, nem o Twain faria prosa desta. Comoveu-me aqui a 300km de distãncia....como o poema que o teu Pai hoje publicou no espaço dele.
Estou a ficar your fan....

Obrigada pelo feedback.
Amanhã - hoje - tenho os Kings of Comvenience aqui na CdM. Not exactly the same....but it's music.

Martini disse...

Foi fantástico, único. Sem plavras.
Próximo: Kings of Convinience que também se arrisca a um dos melhores do ano.

Huckleberry Friend disse...

Claro que está no top 3, Sofs... Já agora, diz quais são os outros dois, para ver se coincidem com os meus! Beijinhos, Lady Midnight!

M'zinha, faltou contar que o Cohen foi antecedido de McDonald's e seguido de Portugália! Quero muito que ponhas os vídeos online, para ver se nos ouvimos! Ah, e não te ponhas com coisas, porque quem faz comentários como o que aqui deixaste e entradas como as do teu blogue não pode dizer que não sabe escrever... beijos. Sincerely, P. Lamb

Por entre o luar, sorrisos e beijos para ti também :)

Rosemary, tinhas-te integrado no grupo na perfeição! O pior era se o Leonard se distraísse... ihihih... Beijos e até breve - espero!
PS: A essa treta dos posts nem respondo :P

Júlia, foi uma noite inesquecível, posso assegurar... beijinhos e obrigado!

Querida Tia, deixa-me corado... que tal foram os Kings of Convenience? Acho que está a fazer falta, nesta rede blogosférica familiar, um espaço nortenho para nos contar o que por aí se passa e, quem sabe, mostrar umas pinturas, umas fotos, etc... fica o repto e um beijino grande!

Martini, só foi pena não nos termos encontrado (como aqui há uns anos, na Calcanhotto, lembras-te?) Quios ligar-te no sábado, mas troquei de telemóvel e perdi o teu número (mandas-mo?). Um beijinho especial ;)

miguel disse...

Amigo Huck: admiro muito o talento da nova geração de jornalistas - escritores que, felizmente, vai ganhando espaço em certa comunicação social. Você é, seguramente, um deles.Juntam , com mestria, várias competências quando se trata de passar a vida para o papel.Esta crónica, dada naturalmente a certas liberdades e intimismos, estaria bem era no " Público"...disto não duvido. Aliás, parece-me que o Zé Manel Fernandes anda distraído.E é uma pena.

Desabafos à parte permita-me, no entanto, um último, que consubstancia a necessidade que tenho de contestar,às vezes com intolerÂncia, convicções e - pior ainda- os gostos alheios.

É QUE NÃO POSSO NEM NUNCA PUDE COM O LEONARD COHEN! Mas ninguem vê que o homem é chato e monocórdico???

abraço

Pedro Cordeiro disse...

Já uma vez te agradeci uma tirada iconoclasta aqui no ninho, Miguel... o tema era o mesmo, a tua ira idêntica e expressa com igual graça. Pelo que o agradecimento se mantém e renova. Com especial regozijo por teres gostado do texto, apesar da abominação que te merece o protagonista do mesmo. Abraço forte e até breve!

Huckleberry Friend

Virginia disse...

Os KINGS OF CONVENIENCE foram enormes, embora só dois+dois.

Não deveria estar pessoa mais velha do que eu na sala ( todos abaixo dos 40:)), mas o ambiente era bom, sobretudo quando eles pediram ás pessoas que deixassem os seus fauteils confortáveis e se chegassem ao palco, aí foi um delírio.
Duas horas de soft rock...muito alternativo, muito suave, a lembrar os saudosos Simon and Garfunkel, mas com tons mais modernos. Sem qualquer espécie de electrificação,com luzes psicadélicas, q.b., numa sala que é um espectáculo,com um concerto que foi meramente acústico, conseguiram levar a plateia de 1400 pessoas ao rubro.

And me in my spot....I was SO happy to feel so young at heart.

Huckleberry Friend disse...

Agora é a minha vez de ficar invejoso... do concerto e do relato, o qual, insisto, devia ser publicado num (ainda) inexistente blogue de uma Virginia Lamb de várias artes. You in your spot, right? Beijinhos!

el.sa disse...

Huckeberry friend, o concerto foi sem dúvida divinal. Não desfazendo dos Kings of Convinience que tiveram um concerto divertido, dinâmico e que, como disse a Virgínia levaram as pessoas ao rubro, o Leonard Cohen é o Leonard Cohen. ***

Huckleberry Friend disse...

He's our man, EC ;) beijos!