segunda-feira, 2 de junho de 2008

O voo da codorniz com Google Earth (XXVI)

Parque da Bela Vista, Lisboa, Portugal

Gosto do Rock in Rio. Esta entrada, escrevo-a embalado pelos sons da noite de ontem, ouvidos em dois palcos, dançando de pé ou estendido num pouf a sentir danças outras. Acho que já consegui expurgar dos ouvidos a batucada da Tenda Electrónica, que é muito gira quando se lá está (embora este ano a opção tenda-sem-tenda, somada às tropelias do São Pedro, tenha resultado num espaço pouco acolhedor), mas terrível quando já se foi para casa e se vive ao pé do recinto...

Gosto do Rock in Rio. Gosto desde a primeira edição lisboeta, em 2004, para a qual tive a sorte de receber um passe de imprensa, embora não me tenham mandado escrever uma linha sobre o assunto. Remorsos? Nenhuns. Soube-me a justa compensação por três meses de estágio numa rasquíssima revista, já extinta, que pouco mais pagava do que os módulos do autocarro e que, ao fim desse período a que chamaram de "ensaio", me veio propor, em vez do prometido contrato e salário digno, mais três meses de igual escravatura. Levaram um manguito, claro, e se conto esta história numa entrada sobre o Rock in Rio é só para não perder a ocasião de denunciar o que se passa com muitos jornalistas estagiários...

Gosto do Rock in Rio. No ano de estreia, passei lá quatro noites, entre os acordes sonantes do Palco Mundo, as curiosidades da Tenda Raízes, os ritmos da Electrónica e a emoção de ir descobrindo aquele recinto, os passatempos dos stands, os amigos com quem nos cruzámos, os recantos para namorar, as óptimas sanduíches - de borla - que havia no espaço reservado à imprensa, a correria de concerto para concerto, a lembrar a agenda sempre apertada da saudosa Festa da Música do CCB.

Gosto do Rock in Rio. Em 2006 não tivemos o bambúrrio da primeira vez, mas a vontade de ir era tanta que, com poupanças antecipadas, generosidade da família e uma gestão ágil dos pontos da BP, acabámos por não falhar uma única noite. Já éramos velhos conhecidos, em vez de "olha ali..." ou "epá, já viste...", dizíamos "lembras-te, foi ali que...". É particularmente engraçado recordar os vários grupos com quem estive na Bela Vista: do tête-à-tête romântico ao espírito mais transgeracional da coisa, gozámos a fundo cada minuto.

Gosto do Rock in Rio. Este ano, planeei ir uma noite, estive quase para falhar e acabei por ir duas. À partida, a participação na edição corrente deve estar encerrada. Mas já aprendi a não fazer grandes planos: ontem, a decisão surgiu às quatro da tarde e já houve quem me desafiasse a ir a Madrid, onde o festival aterra no próximo mês.

Gosto do Rock in Rio. E resolvi, por isso, recordar ao longo da semana alguns dos artistas que (ou)vi nestas três edições de Rock in Rio e as impressões com que fiquei. O tom é capaz de me sair algo nostálgico, até porque a próxima vez (2010) será a última na Bela Vista, destinada a receber o novo Instituto Português de Oncologia (eu sei que o antigo precisa de reforma, mas tinha de ser aqui?!!?). O Rock passa para Loures, dizem-nos, e eu prefiro não dizer o que acho... deixem-me gozar a música enquanto dura!

4 comentários:

Sofia K. disse...

QUE SAUDADES!!!

beijinhos

Martini disse...

Ao contrário de ti, e ao lado da maior parte da imprensa especializada em música e não só, EU NÃO GOSTO do Rock in Rio, obviamente que te respeito.
Mas questiono-me sobre aquilo que acho que são os falsos pretextos deste festival. O cartaz paupérrimo (com excepções claro, tem o seu público claro), cheio de artistas repetendes, basicamente para encher chouriços. Em última análise, como se diz por aí é mesmo o festival da família, onde a música não é o pano de fundo. Injecções de marchandising, marketing agressivo, "um mundo melhor" e 50 e tal euros no bolso da organizaçao por cada alma que lá vai.
A mim não me apanham lá, até porque neste momento so tenho uma perna saudavel :)

Beijinho

Su disse...

Eu estive lá no 1º dia. Falhei o meu Paulo Gonzo, saltei com a bela Sangalo, empatizei com a pobre Amy e vibrei com o espectacular Lenny. Fui sem grande vontade, mas adorei tudo!

Huckleberry Friend disse...

Será que ainda lá vamos este ano, Sofs? Beijos!

Martini, antes de mais, as melhoras para essa gâmbia! Devo dizer-te que concordo com parte do que dizes: o cartaz deste ano foi o mais fraco dos três. Paupérrimo não direi, mas fracote. Não me chateiam os repetentes, se forem bons (Xutos). O Sting, por exemplo, deu em 2006 um concerto bem melhor do que o de 2004. Quanto aos fins sociais, só na primeira edição nos davam umas luzes sobre o destino que davam ao dinheiro. E ainda houve umas conferências ligadas ao tal mote do "mundo melhor". Reconheço que tal se tem perdido, pelo menos para o comum dos mortais. E não sou ingénuo ao ponto de ignorar que o Rock in Rio é, acima de tudo, uma máquina de fazer dinheiro. Simplesmente, divirto-me por lá... beijos, miúda!

Su, o Gonzo não vi mas também não tenho pena... reacções idênticas às tuas nos demais, excepto na Amy. Os dramas pessoais merecem-me simpatia, a rapariga tem talento, mas irrita-me a falta de profissionalismo de quem está ali a receber uns belíssimos cobres. Até porque equivale a falta de respeito por quem larga esses cobres. E por gostar de ouvi-la, ainda fico mais fulo. Tanto dom desperdiçado, céus! Beijinhos :)