Estive duas vezes na ilha do Faial. Deu para conhecê-la de lés a lés - embora fique sempre alguma coisa por ver... -, da paisagem lunar deixada pelo vulcão dos Capelinhos à florida Caldeira, passando por Flamengos, Espalamaca e Varadouro. E pelas igrejas e casas que um terramoto destruiu. Assisti, nesse porto seguro mesmo ao meio da rota do fim, a encontros de navegantes de latitudes distantes. Sentado no Peter's, a escrever postais, vi como um australiano enorme chamava, eufórico, pelo inglês que tivera a simpatia de nos emprestar parte da sua mesa, pedindo apenas em troca um postal escrito pela minha irmã. Não se viam há anos, estes amigos. E foi ali, frente ao Pico em permanente metamorfose e às pinturas que os barcos - também os deles, com certeza - vão deixando no molhe, que se fundiram num abraço há muito ansiado.
Simon and Garfunkel, The Boxer
Ficam duas canções: a que cantei, aos 12 anos, com outros quatro marinheiros de ocasião, percorrendo toda a extensão da marina da Horta, e a que explica na perfeição o que é esta terra, esta ilha, este bar de onde se sai esperando pela próxima vez.
Trovante, Peter's
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Saudades da Horta
No dia 15 de Fevereiro de 1986, sábado, entre as 12h e as 16h, inesperadamente, aconteceu a maior tempestade deste século nos Açores, em que o vento atingiu velocidades de cerca de 250 km/h. José Henrique Azevedo fez fotografias durante e após a tempestade. As ondas atingiram alturas entre 15 e 20 metros e a rebentação das ondas chegou a atingir os 60 metros. Dois anos depois, querendo mostrar o acontecimento com mais facilidade aos iatistas, José Henrique passou duas das fotografias de diapositivo a papel. Descobriu então que no momento em que tinha tirado uma delas, se tinha formado, na rebentação da onda, uma figura humana (cabelo, olhos, nariz, boca e barba) dando-lhe o nome de “Neptuno na Horta”.
Texto publicado pelo Peter Café Sport - José Henrique Azevedo é o proprietário do bar, filho de José Azevedo "Peter" e neto de Henrique Azevedo, o fundador
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8 comentários:
Dos Açores conheço apenas S. Miguel. Não me importava nada de me mudar para lá :). Um beijinho e bom fim de semana.
Esta Horta faz-me lembrar outra "horta"!Onde em tempos houve um baloiço à beira rio e uma rede que presenciaram quedas monumentais! Um lago verde muito enganador ...
Beijos
Concerteza irei la um dia:) e depois desta magnifica descrição..:)
Beijinho grande e sorrisinho lunar:P
Joana, São Miguel também é lindo e não tardará a aparecer aqui no meu ninho. Já o mudar-me para lá... talvez fosse um pouco claustrofóbico. Ilha por ilha, prefiro o meu Baleal ou a ilha que às vezes sou. Beijinho e bom fim-de-semana para ti também :)
Sandy, Sandy, que boa lembrança... o baloiço, a mesa de pedra que ainda lá está (agora já são duas), os ulmeiros, os chorões, o rio e a força que tinha ainda há dias, barrento e arrebatador! E esse malvado lago verde, a misturar beleza e logro. Um retrato da vida. Beijos!
Por entre o luar, não percas a Horta. A lua lá também é linda. Beijinhos e um sorriso.
Huck
Que saudades da Horta - não me importava de ir lá agora, mesmo que se tivesse que ser "o porquinho que vai buscar uma bolota".
Estive lá há um par de anos, num dia primaveril, depois de apanhar uma tempestade na viagem, de tal forma que o comandante hesitouté ao último minuto se partia ou não, e depois de colcoarmos os cintos a hospedeira baixou todos os bancos do avião (um ATP de 60 lugares) para os três passageiros que iam no voo poderem escapar mais rapidamente "se houvesse um problema" - problema tipo "chocar com o Pico" ou "cair no mar". Nada de mais, portanto.
Quando aterrei, pelas cinco da tarde, enfiei-me no Peter´s - chovia a cântaros -, com um livro. E descobri o segredo dos gins tónicos (conto o segredo se me pedirem muito, mas não posso contar quantos bebi porque lhes perdi a conta).
A noite foi passada no Forte de Santa Cruz, actual Pousada.
No dia seguinte, o céu estava azul e o sol brilhava - com a chuva, a poeira do ar tinha sido limpa e via-se o Pico como "daqui para ali".
Depois do trabalho, ainda pude passear, escrever alguns bocados de "Ilhas Atlânticas", e sentir-me como o Huck descreve - imensamente livre. Só isto. Tão pouco, mas tanto.
É caso para dizer, sem qualquer originalidade: depois da tempestade, a bonança.
A imagem mais marcante que recordo do Pico visto da Horta é a de um fim de tarde de Primavera. A noite caía sobre as ilhas, mas demorava a cobrir toda a montanha. Tanto assim era que, estando já acesas as luzes da Madalena e da Candelária, tomadas pelo breu, as nuvens lá em cima, no pico propriamente dito, ainda estavam cor-de-rosa do sol que lhes batia vindo de trás do Faial. E eu no Peter's, no gim, a ouvir marinheiros cantar "Por isso é que eu sou das ilhas de bruma / onde as gaivotas vão beijar a terra".
E lembras-te do Oriol, e o seu "piquito del pico"?
Lembro-me, pois! Ainda me lembro do texto completo. Hei-de usá-lo aqui quando puser a foto do Pico de noite e dia.
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