A marginal da semana passada e a quantidade de memórias que suscitou levam a codorniz a procurar outras maresias. Ei-la que voa para Norte e sai (sai?) do país, seduzida por um passeio marítimo mais sinuoso, com curvas e contracurvas por onde circulam os eléctricos que Lisboa não quis. Que prazer o de descer, uma vez mais, o istmo que liga Portugaliza a A Corunha! É uma cidade sempre amiga, quer nos acolham amigos de braços sempre abertos - que a cada visita nos ensinam mais uma das belezas que há nos arredores - ou, da única vez que deles nos desencontrámos, um modesto quarto de hotel atrás do estádio do Deportivo.
São manhãs a ver o porto da varanda da Charo e do Ánxel (e o Chus, por onde andará?), tardes a descobrir Rias Altas e Baixas, passeios pela barafunda das rúas do centro ao fim do dia, uma vieira aqui, um pulpo à feira acolá, raxo e zorza bem regados, conversas nocturnas na Baía de Riazor/Orzán. Ora falamos a mesma língua, ora nos entendemos sem nada dizer. À socapa, de madrugada, A Corunha prepara-nos surpresas de que só nos daremos conta depois de termos deixado para trás as terras galegas, com um adeus e uma saudade necessariamente provisórios. A cidade deseja que voltemos, só pode, ou não se nos gravaria na pele com a força de uma vaga contra a Costa da Morte, o calor que pela garganta escorre quando bebemos queimada, o peso das pedras que mantêm de pé, há 1900 anos, a Torre de Hércules, farol que guia navios tresmalhados e coluna (corunna, em latim) que deu o nome à terra a que dedico este poema alheio.
Georges Moustaki, C'est là
(a versão cantada está mais acima)
C'est là que le monde commence
C'est le début de l'infini
Jardin secret couleur de nuit
Royaume d'ombre et de silence
Terre promise île déserte
Refuge crypte et oasis
Jardin de nos plus doux délices
Source toujours redécouverte
C'est là le centre de la terre
Où se rencontrent nos envies
C'est là que se donne la vie
Royaume d'ombre et de mystère
C'est là que commence le monde
Là où ta main guide ma main
Pour mieux lui montrer le chemin
Au coeur d'une forêt profonde
J'y découvre des paysages
D'étranges fleurs d'étranges fruits
Dans cette étrange galaxie
Où me conduisent mes voyages
C'est là le centre de la terre
Le saint des saints le lieu précis
Où de naguère à aujourd'hui
Je me noie et me désaltère
C'est là que le extase commence
C'est le début de l'infini
Jardin secret couleur de nuit
Où tu recueilles ma semence
6 comentários:
Algo me diz que teremos sempre a Galiza connosco e, mais do que isso, uma costela galega! ;)
Tenho saudades desses passeios e dessas noitadas de carnaval!
beijos
A tua marginal da semana passada é a minha marginal de todos os fins-de-semana. Gosto muito dela.
Estive lá, mas sem o vagar que gostaria de ter para melhor conhecer essa terra. Lindo, o poema.
Abraço.
Passei so para um beijinho lunar molhadito:( estamos novamente de chuva..
Sorrisinho*
Não me vejo a hora de ir por estas terras visitar você e a Sofis Huck.
Tomara que quando puder ir já veja também o bebê!
Parabéns papai! Estou mergulhada de alegrias por vocês (=
Sofia, o mar galego ronrona por dentro das nossas batidas cardíacas. Eu sonhei ou eram 162 ondas por minuto? Besiños!
Em Bicos de Pés, o troço que aqui trouxe é o dos fins-de-semana. Há outro (Lisboa-Paço d'Arcos) que faço todos os dias, aproveitando o poder que o mar tem de nos pôr bem dispostos para enfrentar um dia de trabalho. Um beijinho.
Adelaide, fica sempre algo por ver em A Corunha... já lá passei umas quantas vezes e ainda não conheço tudo. Mas isso é uma coisa que gosto de fazer nos sítios que me caem no goto. Deixar sempre um pretexto para voltar! Beijos.
Por entre o luar, continuamos de chuva, mas que isso não nos impeça de sorrir! Retribuo os teus beijinhos.
Sammia, atravessa o Atlântico, que nós damos-te guarida! Do lado de cá impera a alegria, apesar da chuva. Suspeito que ela tem feito crescer o rebento... beijinhos grandes e obrigado pelas tuas palavras, amiga ;)
Enviar um comentário