sexta-feira, 30 de maio de 2008

...como és...


James Blunt, You're beautiful

I saw an angel. Of that I'm sure.
...e não ligues ao resto da letra!

Uma dúzia de dúzias

Sejam os nossos filhos, na sua mocidade, como plantas bem desenvolvidas,
e as nossas filhas como pedras angulares lavradas, como as de um palácio.
Salmo 144, capítulo 12

Ironia das ironias

Afinal de contas, ela vai. Eu é que ainda não sei. Desejem-me sorte!

Amy Winehouse, Back to black

Blogues à sexta (XIX)

Vasco Baltazar


Trago-vos um blogue diferente dos habituais. Nem registo de sentimentos e sensações, nem súmula de opiniões políticas, nem resenha de poemas ou músicas, o espaço do Vasco Baltazar é, acima de tudo, a montra da sua oficina de oleiro. E uma montra que vale a pena espreitar, acreditem.

Ambos filhos tardios dos anos 70, as nossas vidas cruzaram-se o suficiente - na escola e nas férias - para nos fazermos amigos. Isto antes de outra coincidência nos ter tornado primos. Feita a declaração de interesses, suspeito que quaisquer suspeitas de favorecimento serão dissipadas com uma visita à arte do Vasco.

O blogue serve, acima de tudo, para mostrar a cerâmica que o Vasco fabrica, num espaço que adivinhamos inspirador e que ele não se coíbe de mostrar. Também estão presentes o currículo do artista e a sua agenda: além de participar em várias feiras ao longo do ano, expõe a solo e em grupo e tem peças em várias lojas. Também está representado no Museu de Olaria de Barcelos.

Apenas se sente a falta, neste blogue, de um endereço de e-mail para quem quiser contactar o Vasco, indagar sobre preços e obter mais informações sobre como adquirir peças. Feito o reparo, proponho-vos uma visita guiada. Os bules estão em maioria (sim, isto é um bule!)e nem todos têm tampa. Há-os para todos os gostos, a sério! Mas tambémjarras, presépios, santos e outras figuras, num estilo muito original que quase se constitui em imagem de marca. Da roda de oleiro do Vasco nasceram ainda troféus e painéis susceptíveis de serem expostos das mais variadas maneiras. Também fazem parte do catálogo, embora não estejam no blogue, cinzeiros, pregadeiras, travessões e outros objectos decorativos. Parabéns, caro Vasco. Um abraço amigo com o calor de uma mufla!

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Resposta a um desafio (no dia certo!)

A Cleo lançou-me há dias dois desafios. Após uma semana mais dura no trabalho, a que se seguiu uma ponte (abençoada!), eis-me a responder. Calhou ser hoje e sinto que não podia haver melhor dia para fazê-lo.

Começo pelo segundo desafio: descrever uma memória numa frase de seis-palavras-seis. A minha frase não é bem frase e a memória que descreve tão-pouco é uma memória. São muitas. Isto porque me veio à cabeça uma sequência de palavaras que arranjei, há anos, para explicar um sentimento que me invadia e invade muitas vezes. Dá-se o feliz acaso de serem seis; aqui ficam, com a imagem do lugar que mas soprou.


a ilha que às vezes sou



Nota: a foto foi tirada no Baleal, a 9 de Maio de 2003, pelo Francisco Leote. Eu vivia em Madrid e foi bom receber estas vagas no centro da árida meseta. Ele vive em Roma e é um amigo de quem tenho saudades.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Irritação

Rua da Bica de Duarte Belo, 30 Janeiro 2008 (PC)

Porque é que não posso dar em Maio os passeios pela minha cidade que dava em Janeiro? Quando é que o estafermo do santo meu homónimo deixa a gente em paz, para cumprir adiados Bicaense, Delidelux e Baiúca? Não fossem os jacarandás, começava a perguntar-me se estamos mesmo na altura do ano em que mais gosto de Lisboa...

segunda-feira, 26 de maio de 2008

O voo da codorniz com Google Earth (XXV)

Praia de Vale de Frades, Lourinhã, Portugal

Areia grossa depois do lamaçal consola as plantas dos pés. Há-de colar-se às costas, não me ralo. Dispenso no passeio de rocha a rocha o jornal ou livro do costume. Não dirijo rancores à nuvem que - linda, negra, enorme - me chove em cima três pingos antes de seguir viagem. Podia ser pior, um tornadozito sobre o mar ou coisa que o valha. Mas há-de chover mais: vê que a Berlenga está nítida e os Farilhões à mão de semear. Só não entro no mar porque sabe bem esta pedra quente. Esta perda quente. Esta perna quente.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Oeste até segunda-feira...

Pet Shop Boys, Go West

Go West - Life is peaceful there
Go West -
In the open air
Go West -
Where the skies are blue
Go West -
This is what we're gonna do

Courrier Internacional n.º148


Chega às bancas na próxima sexta-feira o Courrier Internacional de Junho. A crise alimentar é o tema forte, num dossiê que inclui uma entrevista com o Prémio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, grande impulsor do microcrédito. A «Sibéria suíça», a história de uma autarquia vendida no eBay e um portefólio sobre o ano 1968 são outros assuntos em destaque, numa edição em que poderá saber porque é que alguns cientistas julgam que Deus é... uma partícula subatómica. Esperemos que consiga, ainda assim, evitar o fim do mundo, que outros estudiosos prevêem para 21 de Dezembro de 2012. Ora, até lá, ainda falta muito tempo, por isso comprem a revista, que este vosso amigo não quer entrar em crise alimentar!


USA for Africa, We are the World

Portas de entrada para o meu ninho

Nos últimos tempos, diz o Statcounter, vieram aqui parar pessoas à procura destas coisas. Ciente da desilusão que lhes devo ter causado, espero que, pelo menos, a visita ao codornizes lhes tenha dado algum gozo...


como criar codornizes em vídeo
Nem em vídeo nem em áudio, mas se tem suficiente aversão à passarada para não querer criar as pobres aves ao vivo, não seria melhor mudar de ramo?

dana no moulin rouge
A única Dana de que me lembro era uma transsexual israelita que ganhou a Eurovisão. Se já vai no Moulin Rouge, merece ser notícia, por se tratar de uma excepção à regra do esquecimento (merecidíssimo, o mais das vezes) que aguarda os vencedores de tal certame (olha aqui outra, à escala nacional). Ai, que saudades: le Portiugal, zêrô puã. Portshugal, zírâo points!

danca e musica do segundo reinado
Reinado de quem? É só dizer e apresentar-lhe-emos a nossa extensa lista de pavanas, passacalhas, chaconas, galhardas e sarabandas! É que adoramos dançar. A sério!

fotos da jenifer bartoli
Esta quero agradecer. Bartolis só conhecia a Cecilia. Que canta lindamente, é certo, mas carece de certos outros atributos... ora vejam!

músicas para violino dos simpsons
Nunca escondi que gosto à brava da familória amarela, mas em violino nunca ouvi... talvez lhe agradem as versões de rock psicadélico, grunge, guitarra clássica ou mesmo orquestra.

o livro do urso com insónias
Aqui há uns tempos, podia tê-lo escrito. Mas fiquei-me por uma sugestão de cura para a falta de sono. Ultimamente, porém, tenho dormido bem!

onde apanho o barco para ir até à ilha das berlengas e quanto pago?
É dos passeios mais bonitos que há... só não sei é como veio dar a este blogue, que costuma andar por outra ilha das redondezas. Mas não custa nada ajuar: esta é a carreira regular. Se tiver um grupo grande, pode alugar um barco mais pequeno, que é muito mais divertido e enjoa menos.

padre perdido google earth
Perdido pelo Google Earth? Ou efectivamente desaparecido, como este? Usar o programa para encontrá-lo é uma ideia legítima, conquanto peregrina. Nós preferimos outros voos. Ah, e o internauta que pedia para "ver bombas de gasolina no Google Earth" não deve andar a par dos preços da mesma!

solstícios da jordânia
Nunca lá fui, mas compenso com as últimas celebrações do equinócio aqui no blogue. Mais doméstico, mais pelintra, mas enfim...

tudo sobre o sistema educacional na inglaterra
Tudo? Mas mesmo tudo?! Oh, dear... O mais que posso fazer é assegurar-lhe que quem passa pela escola em terras de Sua Majestade não se transforma, obrigatoriamente, em bruxa ou em hooligan.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Tempo de viver

Subo a Estrada de Paço de Arços sob chuva miudinha. Não chego a pegar no guarda-chuva, a cabeça está demasiado ocupada a recordar sons e palavras da noite de ontem, no CCB. Pour aller n'importe où / Pour aller jusqu'au bout / Des chemins de fortune. As guitarras, em número de três. Avec ma bouche qui a bu / Qui a embrassé et mordu / Sans jamais assouvir sa faim. O português bem arranhado. Como é que foi, meu bom José / Se apaixonar pela donzela / De entre todas a mais bela / De toda sua Galiléia. O piano. Maintenant, Nicola et Bart / Vous dormez au fond de nos cœurs. A roupa branca. Il y avait un jardin qu'on appelait la terre / Il était assez grand pour des milliers d'enfants. A doçura. Elles sont douces et attentives / Les mères juives. Toninho do Carmo no cavaquinho. Quando o verde dos teus olhos se espaiá na plantação / Eu te asseguro, não chores não, viu / Que eu voltarei, viu, meu coração. A barba alva. Le soleil qui brûlait les rues / Où mon enfance a disparu. O acompanhamento cristalino de Maria Teresa Ferreira. Et quand son âme l’a quitté / Un rossignol quelquer part à chanté. A memória. À ceux qui ne croient plus voir s'accomplir leur idéal / Dis-leur qu'un œillet rouge a fleuri au Portugal. O acordeão. C'est pour toi que je joue, grand-père, c'est pour toi. Os amigos Zélia Gattai e Jorge Amado. Bye, bye, Bahia / Je retourne chez-moi, loin d'ici. Vicent Segal no violoncelo. Je déclare l'état de bonheur permanent. O bom humor. Mélanie faisait l'amour / avec tous ses amis. O bom amor. Jolie fleur du mois de mai ou fruit sauvage /Une plante bien plantée sur ses deux jambes / Et qui trame en liberté où bon lui semble. A revolução. Grândola a tua vontade / Jurei ter por companheira. Marcos Arrieta no baixo. Je ne sais vraiment pas jusqu'où / Ira cette complice. Os aplausos. Boucle d'oreille sur un oreiller / Quelle est la belle qui l'a oublié?. A promessa de voltar, que retribuo. Allez, venez, Milord / Vous asseoir à ma table...

Nisto, toca o telefone. Mas nem assim volto à realidade, nem assim dou pelo molha-tolos que me ensopa, nem assim Moustaki me sai da cabeça, do coração, das cordas vocais. Isto porque, do outro lado, nem "está lá" nem coisa que o valha. Apenas duas vozes: Georges et Sophie, ele no rádio do carro, ela no telemóvel. Depressa lhes junto a minha et Pierre entonne 'Le temps de vivre', com a certeza de que há quem connosco baile sob a chuva.


Georges Moustaki, Le temps de vivre (ao vivo no Olympia, 2000)

Viens, écoute ces mots qui vibrent
Sur les murs du mois de mai
Ils nous disent la certitude
Que tout peut changer un jour

Viens, je suis là, je n'attends que toi
Tout est possible, tout est permis

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Cais das codornizes (XIII)


Hoje é o dia por que esperamos desde Janeiro - o do concerto de Moustaki no CCB! Dizem as 'más línguas' que está velho e canta mais devagar, mas acreditamos que conservará toda a magia das suas músicas! Passado um fim-de-semana a recordar as músicas da nossa vida, entre viagens para aqui e para ali, hoje vai ser ao vivo, um reviver em gestos, em olhares, um poeta de cumplicidades, de fins de tarde espalhados pelas viagens ou em terraços altos nos fins-de-semana. Esperamo-lo vivo, enérgico e com aquela voz a que nos habituou, num concerto que nos vai ficar a pairar na memória por muitos anos. O Cais recorda o concerto no Olympia, em 2000, e o codornizes o do Dejazet, em 1987, com a música Il est trop tard. Mas nunca é tarde para ouvir Georges!


Pourtant je vis toujours
Pourtant je fais l'amour
Il m'arrive même de chanter
Sur ma guitare
Pour l'enfant que j'étais
Pour l'enfant que j'ai fait
Passe, passe le temps
Il n'y en a plus pour très longtemps

Quanta Luz!

Praia da Luz, 11 de Maio (foto da Rosarinho)

Quantas cores será possível divisar neste mar chão? Quantas nos veios da montanha cuja erosão acompanhamos, ano após ano, nos passeios até à Rocha Negra, como quem se espanta com o crescimento de uma criança ou de uma palmeira? Quantas pedras tem a Calçada dos Gigantes que nessas andanças atravessamos, analisando o gume afiado das que caíram, perfeitamente paralelepipédicas, desde a última vez que por aqui passámos? Quantos sustos, quantas ondas, ao aventurarmo-nos por aqui na maré alta? Quantos caçadores de tesouros terá comido o Dragão que habita - e ouvimos - na Cova homónima? Quantos windsurfers e esquiadores? Quantos chapões? Quantos barquinhos vindos da Ponta da Piedade, quantos da Ponta da Gaivota e, para lá desta, quantos pôres-do-sol de quantos tons e temperaturas? Quantas toalhas perdi, quantos pares de chinelos? Quantos primos estarão connosco nestas férias? Quantos tios? Quantos engates na pista do Privé, ao balcão do Mirage ou através da sebe do jardim? Quantos poemas começados, quantos mostrados à Avó Gina, sentada a ver o mar? Quantas tâmaras caídas da palmeira grande, que já não está, quantas abelhas me picaram o pé por lhes ter pisado o doce manjar? Quantas formigas numa flor de hibisco? Quantas folhas da árvore da borracha, quantos picos nos cactos, quantas braçadeiras rotas pelo espigão de uma piteira? Quantas cerimónias de abertura e encerramento de Jogos Olímpicos, Europeus e Mundiais de Futebol? Quantas amizades efémeras ou não tanto? Quantas partidas de ténis no Luz Bay, quantas de snooker nos cafés atrás de casa, quantas de Trivial Pursuit até ser dia? Quantas discussões sobre quem vai despejar o lixo? Quantas lágrimas e zangas muito mais sérias? Quantas gargalhadas ao recordá-las no ano seguinte? Quantos trouxe cá pela primeira vez? Quantos quero me venham comigo até à última? Quantas horas (três, ainda?!) para o Baptista abrir, que os miúdos já acordaram e alguém tem de ir ao pão? Quantos bolos quentes depois da noite? Quantos "repimpas" comprados na loja da praia, quantas pulseiras fanadas das banquinhas, quantos barcos a remos que não duravam mais de um Verão? Quantos filmes da tanga no cine-estúdio? Quantas doses de cogumelos no Golfinho, quantas churrascadas com a mestria assegurada do Pai, quantos jantares nas várias casas do nosso "comboio", por vezes com o mesmo elenco? Quantos mergulhos à socapa na piscina do senhor Simão? Quantos peixinhos no anzol do Zé Pedro? Quantas conversas com a Maria? Quantos habitantes na cidade em miniatura que o vento esculpiu na pedra? Quantas revistas cor-de-rosa no Capricho, quantos jantares na Concha ou no Poço (e nós a aguar, tomem lá uma nota e vão aos hambúrgueres)? Quantos peixes no mercado de Lagos? Quantas tartes de alfarroba? Quantas gotas de Otoceril, Sofia, que este ouvido dói cada vez mais? Quantos polvos na Baía dos ditos? Quantos anos mais, Dona Hermínia, já com mais de 80 e ainda tão lesta? Quantas amêijoas em Castelejo e mexilhões no velho Rocha Negra? Quantos filhos já, Dora? Quantos cocktails esquisitos trazidos pela Célia do Internacional? Quantos cães no pátio de baixo, de que o Leão e o Baco eram os mais lindos? Quantos bifes bêbados, quantos de nós? Quantos mergulhos no Poção? Quantos escaldões, quantos cremes no saco de praia da Mãe? Quantas palavras cruzadas, sudokus e kakuros? Quantas melodias no assobio do Baltazar, a regar a relva pela manhã? Quantas nos altifalantes da Fortaleza? Quantas nas cordas dos violinistas que actuam na Igreja? Quantas melgas mortas no tecto até podermos ir dormir? Quantas amonas? Quantas guitarradas? Quantos cabem na ilha insuflável? Quantos pés de escalracho no jardim, quantos nomes gravados na rocha amarela, quantos metros irão desta até à areia na nossa prainha, que ora há ora não há?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O codornizes é um blogue apaixonante

É a opinião da Mateso e, como entendem, não vou contestar, apenas aceitar com um sorriso indisfarçado. Vindo de um blogue como o aArtmus (de que já vos falei), o prémio deixou-me muito feliz. Não só pelo gesto como pela linda imagem que o materializa. O reverso da medalha é, obviamente, ter de escolher seis a quem passar o galardão, criado pelo blogue Infinito Particular. Vamos lá, então... por onde passa a paixão na minha blogosfera particular? Olha, em vez de seis saíram oito!

Como não? Além do óbvio, adora Roy Lichtenstein e é loirinha...

Merecia-o só pelos "Até amanhãs" que cantam, mas por tanto mais...

Por certos gestos e pelo fogo que arde abaixo do Equador...

Falabarata tcl
Valem-no traineiras, avós, caligrafia e I love you numa guitarra...

Porta do Vento Ana V.
Porque nada ali é evidente e pelos textos do Psb...

Pelas toneladas de música. E pelas paixões que me faz reviver...

Palavras ao mesmo tempo sábias e inocentes. E tão lindas, céus!...

Sonhar é sempre apaixonante. E as histórias que ela conta!...

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Then again...


Também podias ter sido tu.

Mas lá que era para mim...

Os nossos amores

Isto é para uma amiga que vive longe. Estivemos a falar de amores. Do meu e do dela. E do trabalho que dão. E da força que têm. E do bem que nos fazem. E dos passados que varremos para debaixo do tapete. E daqueles que guardamos no bolso, só para podermos pôr a mão e sentir que continuam lá, no momento em que as comissuras dos lábios ameaçam curvar-se no sentido descendente (travão às quatro rodas, marcha-atrás, sorriso reposto!). E das palavras que o presente nos obriga a dizer. E de como ele nos silencia perante as maravilhas da vida. E dos futuros que construímos em nuvens brancas acasteladas por cima do mar. Com vista para o Sol, sem que nos queime, mas por ele aconchegados. Fazendo minhas as tuas palavras, miúda a valer, promete-me que vais continuar a acreditar! Há jeitos mansos que só a pessoa certa sabe ter...

Chico Buarque, O meu amor

The night we made contact


Eras tu, não eras?

E foi para mim, não foi?

terça-feira, 13 de maio de 2008

Baú das codornizes (IX)


Genérico de Tom Sawyer

Não sei quantas vezes cantei esta canção. Passou muito tempo entre a primeira e a mais recente, que é como quem diz entre ter visto estes deliciosos desenhos animados na RTP2 - sobretudo em casa da minha Tia Amelinha - e tê-la trauteado, há dias, num serão divertido. Muitos anos depois da estreia, o genérico de Tom Sawyer tornou-se o hino oficial dos banhos de fim de tarde no Baleal. Guiados pelo inigualável PTD, um grupo de miúdos de todas as idades desafiava as ondas e a brisa fresquíssima do poente, entoando em uníssono estas estrofes sobre aventura, camaradagem, sonhos e emoções. Confiança e coragem eram conceitos que não havia razão para pôr em causa. A saída do mar, com o sol posto e o tempo contadíssimo para irmos tomar banho e pôr-nos bonitos para o jantar, era feita ao som desta outro canto. Tão diferente e tão igual ao anterior.


Zeca Afonso, Canto moço

sexta-feira, 9 de maio de 2008

No sorriso louco das mães batem as leves / gotas de chuva

Na recta final da semana, cortamos a meta das comemorações do Dia da Mãe no codornizes. E a encabeçar a entrada, o verso inicial do poema Herberto Hélder, que usámos para dar o tiro de partida. Os quadros da exposição de hoje são de Mary Cassatt (1844-1926), uma americana amiga de Degas que expôs com os impressionistas de Paris. Não era, nem por sombras, tão ecléctica como Picasso. As mães que pintou não são, é evidente, as do nosso tempo. Mas soube retratar a maternidade com ternura e doçura. Terno e doce é, sem dúvida, esse milagre de que apresentámos visões femininas e masculinas. O maravilhoso e indizível milagre de se se Mãe. E Pai também, claro...


















O voo da codorniz com Google Earth (XXIV)

Chelsea, Londres, Inglaterra

Contei hoje a um amigo uma história que passa por este bairro londrino, muito posh e vitoriano. Gosto de andar a pé pelas ruas de Chelsea, sob chuva miudinha, a ver qual dos telhados em bico chega primeiro ao céu. São fileiras de casas de tijolo vermelho, esbeltas e alinhadinhas, alternando com travessas que parecem as vilas que ainda restam em Lisboa. De Knightsbridge até ao Tamisa - onde um dia deixei cair um boné -, hei-de repetir a passeata um destes dias. Até lá, consolo-me com palavras do poeta-poetinha.


A última elegia (V), de Vinícius de Moraes
(Londres, 1939)









Greenish, newish roofs of Chelsea
Onde, merencórios, toutinegram rouxinóis
Forlornando baladas para nunca mais!
Ó imortal landscape

no anticlímax da aurora!
ô joy for ever!

Na hora da nossa morte et nunc et semper
Na minha vida em lágrimas!


uer ar iú

Ó fenesuites, calmo atlas do fog
Impassévido devorador das esterlúridas?
Darling, darkling I listen...

"... it is, my soul, it is

Her gracious self..."

murmura adormecida

É meu nome!...

sou eu, sou eu, Nabucodonosor!

Motionless I climb

the wa
t
e
r
Am I p a Spider?
Am I p a Mirror?
e
Am I s an X Ray?


No, I'm the Three Musketeers

rolled in a Romeo.
Vírus

Da alta e irreal paixão subindo as veias
Com que chegar ao coração da amiga.

Alas, celua

Me iluminou, celua me iludiu cantando
The songs of Los; e agora

meus passos
são gatos

Comendo o tempo em tuas cornijas
Em lúridas, muito lúridas
Aventuras do amor mediúnico e miaugente...
So I came

- from the dark bull-like tower
fantomática

Que à noite bimbalha bimbalalões de badaladas
Nos bem-bons da morte e ruge menstruosamente sádica
A sua sede de amor; so I came
De Menaipa para Forox, do rio ao mar - e onde
Um dia assassinei um cadáver aceso
Velado pelas seis bocas, pelos doze olhos, pelos centevinte dedos espalmados
Dos primeiros padres do mundo; so I came
For everlong that everlast - e deixa-me cantá-lo
A voz morna da retardosa rosa
Mornful and Beátrix
Obstétrix
Poésia.

Dost thou remember, dark love
Made in London, celua, celua nostra
Mais linda que mare nostrum?

quando early morn'

Eu vinha impressentido, like the shadow of a cloud
Crepitante ainda nos aromas emolientes de Christ Church meadows
Frio como uma coluna dos cloisters de Magdalen
Queimar-me à luz translúcida de Chelsea?
Fear love...

ô brisa do Tâmisa, ô ponte de Waterloo, ô

Roofs of Chelsea, ô proctors, ô preposterous
Symbols of my eagerness!

- terror no espaço!

- silêncio nos graveyards!

- fome dos braços teus!

Só Deus me escuta andar...

- ando sobre o coração de Deus

Em meio à flora gótica... step, step along
Along the High... "I don't fear anything
But the ghost of Oscar Wilde..." …ô darlingest
I feared... A ESTAÇÃO DE TRENS... I had to post-pone
All my souvenirs! there was always a bowler-hat
Or a POLICEMAN around, a streched one, a mighty
Goya, looking sort of put upon, cuja passada de cautchu
Era para mim como o bater do coração do silêncio (I used
To eat all the chocolates from the one-penny-machine
Just to look natural; it seemed to me que não era eu
Any more, era Jack the Ripper being hunted) e suddenly
Tudo ficava restful and worm... - o sííííííííí
Lvo da Locomotiva - leitmotiv - locomovendo-se
Through the Ballad of READING Gaol até a vísão de
PADDINGTON (quem foste tu tão grande
Para alevantares aos amanhecentes céus de amor
Os nervos de aço de Vercingetórix?). Eu olharia risonho
A Rosa-dos-Ventos. S. W. Loeste! no dédalo
Se acalentaria uma loenda de amigo: "I wish, I wish
I were asleep". Quoth I: - Ô squire
Please, à Estrada do Rei, na Casa do Pequeno Cisne
Room twenty four! ô squire, quick, before
My heart turns to whatever whatsoever sore!
Há um grande aluamento de microerosíferos
Em mim! ô squire, art thou in love? dost thou
Believe in pregnancy, kindly tell me? ô
Squire, quick, before alva turns to electra
For ever, ever more! give thy horses
Gasoline galore, but do take me to my maid
Minha garota - Lenore!
Quoth the driver: - Right you are, sir.

*

O roofs of Chelsea!
Encantados roofs, multicolores, briques, bridges, brumas
Da aurora em Chelsea! ô melancholy!
"I wish, I wish I were asleep..." but the morning
Rises, o perfume da madrugada em Londres
Makes me fluid... darling, darling, acorda, escuta
Amanheceu, não durmas... o bálsamo do sono
Fechou-te as pálpebras de azul... Victoria & Albert resplende
Para o teu despertar; ô darling, vem amar
À luz de Chelsea! não ouves o rouxinol cantar em Central Park?
Não ouves resvalar no rio, sob os chorões, o leve batel
Que Bilac deitou à correnteza para eu te passear? não sentes
O vento brando e macio nos mahoganies? the leaves of brown
Came thumbling down, remember?
"Escrevi dez canções...

... escrevi um soneto...

... escrevi uma elegia..."

Ô darlíng, acorda, give me thy eyes of brown, vamos fugir
Para a Inglaterra?

"... escrevi um soneto...

... escrevi uma carta..."

Ô darling, vamos fugir para a Inglaterra?

..."que irão pensar

Os quatro cavaleiros do Apocalipse..."

"... escrevi uma ode..."

Ô darling!

Ô PAVEMENTS!

Ô roofs of Chelsea!

Encantados roofs, noble pavements, cheerful pubs, delicatessen
Crumpets, a glass of bitter, cap and gown... - don't cry, don't cry!
Nothing is lost, I'll come again, next week, I promise thee...
Be still, don't cry...

... don't cry

... don't cry

RESOUND

Ye pavements!

- até que a morte nos separe

ó brisas do Tâmisa, farfalhai!

Ó telhados de Chelsea,

amanhecei!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

E as mães / aproximam-se, soprando os dedos frios

Mais um beijo a cada mãe deste mundo. O poeta lançou o mote e o codornizes pôs-se a mostrar sorrisos e lágrimas de filhos e progenitoras. Vistos por mulheres, vistos por homens e, hoje, vistos por um homem que as soube retratar de modo tão notável quanto diverso. Eis a maternidade vista por Pablo Picasso. Só é pena que, não obstante a beleza destas imagens, o artista sempre tenha sido uma besta com as mulheres que se lhe cruzaram no caminho.









Baú das codornizes (VIII)

Não há duas sem três. Aos presentes da Sofia e do Manel seguiu-se um da Teresa. Chegou em versão áudio, por e-mail, e fez-me ir procurar o vídeo para pôr aqui. A oferenda tocou-me especialmente. Cantei esta música vezes sem fim, na terceira classe, no meu querido Queen Elizabeth's School. Aos três reis magos inusitados do mês de Maio, o meu muito obrigado!


Oom pah pah, do filme Oliver!, com Shani Wallis

Segundo presente do dia

Um filme gentilmente enviado pelo Manuel Teixeira. Vejam, que vale a pena. Não tem muita acção, mas a banda sonora é sublime!


Júlio Miguel e Lêninha, O filho do recluso

Merci, dame blonde


Barbara e Georges Moustaki, La dame brune

Chante encore au clair de la lune, je viens vers toi
Ta guitare, orgue de fortune, guide mes pas

quarta-feira, 7 de maio de 2008

E as calmas mães intrínsecas sentam-se / nas cabeças filiais

Guiados por Herberto, continuemos a homenagear essa bela instituição que é a mãe. Se ontem a vimos retratada por mulheres, é justo que hoje entreguemos a paleta e o pincel aos homens.

Alfredo Ramos Martínez

Bryce Brown

Fernando Botero

Gustav Klimt

Joan Miró

José de Almada Negreiros

Keith Haring

Maxim Gorki

Paul Gauguin

Ravi Varma

Sebastião Mendes