quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Contagem decrescente

Já de partida, mais uma música de Madrid. Numa versão estrangeira, que é para despistar os indesejáveis...


Mecano, Fermati a Madrid, versão italiana de Quédate en Madrid

Dia das bruxas

Cabeça de abóbora, quando éramos miúdos, era só uma metáfora pouco elogiosa, ainda que não desprovida de carinho. Nada tinha que ver com noites a bailar à volta de caldeirões (embora a cucurbitácea fosse assídua na sopa), gatos pretos a dar azar (isso era nos livros do Pato Donald) ou bruxas de chapéu bicudo (já então las había, claro). Foi quando a vida dos meus pais nos levou - a mim e à minha irmã Filipa - a passar uns meses em Oxford, tinha eu sete, oito anos, que conheci o Halloween.

Divertíamo-nos, claro. Feiticeiros, salamandras, fantasmas, esqueletos e dráculas criavam, na escola, um ambiente feérico e delirante, com canções e lenga-lengas próprias. Era um Carnaval de Outono, mas com seres vindos do lado obscuro do sonho. Ou, como percebi mais tarde, a versão pagã do querido Pão por Deus (desse falamos amanhã), dos Finados, do Todos os Santos. De volta a Lisboa, o Queen Elizabeth's School reforçou o gosto por esta festa diferente. Não sou de importações forçadas, mas aquele país também foi, brevemente, o meu. Ainda é um pouco.

Há na celebração do mal algo de fascinante, para uma criança e não só. Gosto da ideia de que o feio também possa ser festejado, e não apenas pela necessidade universal de catarse. Sem confundir o bem e o mal, os ritos pagãos aceitam que a linha divisória seja menos cristalina do que às vezes desejaríamos (seria desejável?). Ao dar a um miúdo o direito de fazer partidas a quem não lhe dá doces, o trick or treat soa-me ao reconhecimento de que ninguém é perfeito. Feliz Dia das Bruxas!

Poema de/para quem vê o sol nascer

E um dia o Sol sem um cigarro
de manhã com sono, mas não:
o giz, as folhas cheias do que nem olhas
nunca se escreve a sério e não se diz
No entanto, há manhãs bonitas
sem credo nem dono
só barro e a mão modela, escreve, diz
o que querias que fosse acordar
a mazela doce de dormir ao Sol

Outubro 2000

Foto: nascer do sol no Baleal, por João Maria Baltazar

Answer - Sarah McLachlan


Sarah McLachlan, Answer

I will be the answer
At the end of the line
I will be there for you
While you take the time
In the burning of uncertainty
I will be your solid ground
I will hold the balance
If you can't look down

If it takes my whole life
I won't break, I won't bend
It will all be worth it
Worth it in the end
Cause I can only tell you what I know
That I need you in my life
When the stars have all gone out
You'll still be burning so bright

Cast me gently
Into morning
For the night has been unkind
Take me to a
Place so holy
That I can wash this from my mind
The memory of choosing not to fight

If it takes my whole life
I won't break, I won't bend
It will all be worth it
Worth it in the end
'Cause I can only tell you what I know
That I need you in my life
When the stars have all burned out
You'll still be burning so bright

Cast me gently
Into morning
For the night has been unkind


(a foto é minha e foi tirada no Toxofal de Baixo)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Vozes doces

A voz de Katie Melua inaugurou o codornizes e não foi por acaso. O seu timbre doce no Moon river é a descrição do que queria para este espaço. Descobri Melua pela mão de uma amiga, num fim de tarde da passada Primavera. Fascinaram-me os nove milhões de bicicletas em Pequim. Fascinou-me quase tudo deste então.

A música de hoje enviou-ma outra voz doce. Com uma nota especial: eu ia adorar um verso, cabia-me descobrir qual. Lá abri a letra e, amigos, foi tiro e queda. Não havia dúvida, só podia ser aquilo, tinha tudo a ver connosco! Liguei à remetente e clamei vitória. Mas... não! No verso que eu adorei ela não tinha reparado. Citou-me outro, também muito ligado às nossas cumplicidades, que voltei a adorar e a procurar na letra. Só que não estava lá. Não fazia parte da música. Criara-o o ouvido dela, via rádio do carro. Acabámos os dois a rir às gargalhadas e a ouvir a Katie. Mais um fim de tarde adoçado por vozes queridas, que partilho convosco enquanto a noite vai ganhando terreno.

À espera do tiro de partida

Vou atrás de uma entrada curiosa do Zoo Bizarro. É sobre uma inglesa que escreveu um livro de viagens a países onde nunca esteve. Não repito o que a senhora opina sobre os portugueses, porque isso fez o JG. Para evitar o plágio total e descarado, socorro-me da costela ibérica e vou ao capítulo dos espanhóis, que aprecio e que visitarei em breve...

The Spaniards are rather short and thin. Their hair and eyes are black, their skin is dark, and their cheeks pale, and their countenance is grave and sad. They walk very slowly, and hold up their heads. The women are very graceful.
They are not like the French, lively and talkative: they are grave and silent. They are not active like the Scotch, but cold and distant; nor fond of home like the English, but fond of company. Yet they are cruel, and sullen, and revengeful. They are very proud. The poor are as proud as the rich. They think no nation, and no language is like their own. It is true their language is the best in Europe, but there are very few wise books written in it.
Favell Mortimer

Graciosas e magras... as minhas amigas espanholas a-d-o-r-a-r-i-a-m ler isto (menos o escuras de faces pálidas)! Mas tristes? Isso acham eles de nós! Dizia-me um amigo: Para hablar portugués, no hay más que poner cara triste y hablar para dentro. E quantos portugueses diriam dos espanhóis que são pouco faladores? Rematemos, então, com música, sem etiquetas nem rótulos. Madrid também é a minha terra e mato saudades só de sonhar com quatro dias de sonho, numa quasi-religiosa visita outonal que tem início amanhã. Só ainda não decidi se arranco de carro ou vou a andar pelo céu. Há convites que não se recusam.


Joaquín Sabina, Pongamos que hablo de Madrid

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O voo da codorniz com Google Earth (IV)

Mais um voo de segunda-feira. Quem já passou por este local? E o que têm a dizer sobre este ou outro que ele vos recorde? A codorniz levanta voo, vamos ver quem a apanha!

Alvalade, Lisboa, Portugal

A nossa casa

A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onte está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Costrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jadim,

Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...

Florbela Espanca


Disco pedido


Cliff Edwards, When you wish upon a star
(de Pinóquio)


É o grilo falante que canta, no Pinóquio, a canção que nos quer fazer acreditar que todos os desejos se podem realizar. Outra versão memorável é a de Louis Armstrong, que prometo para outro dia (dias para desejar há sempre...). O clip tem vários momentos Disney, porque precisamos deles. E porque vi muitos, sempre por alturas do Natal e com gomas da Heller compradas na Versailles, na companhia de quem quero que veja este filme e acredite em todos os sonhos.

domingo, 28 de outubro de 2007

Sunday soundbytes (III)

Uma ideia, um pensamento, um som. Todos os domingos, no codornizes, para que segunda-feira custe menos a arrancar. Hoje, o dia foi mais longo, mas pareceu mais curto, porque a noite chegou cedo. Detesto a hora de Inverno, mas gosto destes dias em que o sol pouco aquece, em que saio de calções e t-shirt e acabo enregelado, das tardes em passo pelo Baleal e acabo por ir ao banho, para depois ser chamado louco. Assim como gosto de ver a chuva às bátegas, pela vidraça, à lareira, com chocolate quente, camisolas, discos de vinil e braços e pernas confundidas, e cheiro de terra molhada ao fundo. E de saber que a Primavera há-de vir, de gostar dessa certeza, mas de não ter pressa em ver o mercúrio subir no termómetro. A voz é de Julie Andrews, a canção chama-se I have confidence e é desse monumento chamado Música no coração.

sábado, 27 de outubro de 2007

Baú das codornizes (I)

Um boneco que me mandou por e-mail a minha querida tia Qué acaba com as hesitações: este blogue ganha, hoje, uma nova secção. Sem dia marcado, vou pôr aqui coisas boas do passado. Daquela infância inocente (e de outras menos...) à qual apetece voltar nos dias maus. E que é bem recordada nos dias bons. O boi do desenho, o Bocas, dava na RTP quando só havia RTP e tinha uma quinta cheia de animais tão tipicamente da quinta como o hipopótamo, além de um leão e um gorila chamado Tarzan. O melhor amigo do Bocas era o Ted, uma tartaruga cuja carapaça acabava sempre desfeita por causa dos disparates do bovino agricultor. E a música era o máximo. O blogue Simplesmente Palavras tem alguns clips.


Dedico este primeiro baú à M., porque foi ela que deu a ideia, mesmo sem querer, quando ressuscitou num comentário deixado num cais próximo o delicioso Era uma vez a vida. Faz especial sentido dedicar à M. uma entrada sobre amizade e infância. Há dias, ela esboçou no mesmo cais um dos melhores retratos que já li de ambas.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Blogues à quinta (III)

OK, é sexta, peço desculpa. Isto atrasou-se por causa de um pombo assado. Mas cá está a sugestão blogosférica da semana, a relembrar a costela iberista deste vosso amigo.

La Fragua


É o blogue de um amigo espanhol, Toño Fraguas, cuja vida se cruzou com a minha num momento decisivo. Fragua é, como em português, a forja, a fornalha ou fogueira onde se trabalha o metal. Mas é também ardor, abrasamento, amargura ou aflição. Quem nunca os sente não vive. Jornalista competente e observador, Toño promete "estratégias para aceitar a morte, pensamento absurdo, política no sentigo grego e cuidar de si mesmo". Cumpre. Nas entradas mais recentes, desanca a direita espanhola por causa do ambiente, goza com um pretenso faquir, reflecte sobre a esquerda e repudia a ETA. Já devem ter percebido que não podíamos senão dar-nos bem.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Don't you just love...

...lemon curd? O da londrina Fortnum and Mason, passe a publicidade (que delícia tomar chá!), era o meu preferido antes de a Sofia ter feito o dela. Comigo. Por isso, a música é para nós dois. Obrigado pelos limões, Avó Lena. E um abraço para todos os familiares, amigos, conhecidos e desconhecidos que alguma vez tenham percebido como o limão pode ser doce.

Balada de mim hoje

BALADA DO LOUCO - ...


Se eles são bonitos
Sou Alain Delon
Se eles são famosos
Sou Napoleão

Mais louco é quem me diz
E não é feliz
Não é feliz


Arnaldo Baptista/Rita Lee

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Instintos

Uma amiga de quem tinha muitas saudades e com quem este blogue me permitiu retomar contacto (só por isso já valeu a pena criá-lo!) mandou-me este filme, que merece ser divulgado. Foi feito pelo Ministério dos Assuntos Sociais do Líbano, país que tem passado as últimas décadas metido em guerras estúpidas em que os civis, em particular as crianças, são quem mais sofre. Mas não é só em tempo de conflito armado nem na miséria que os mais pequenos são maltratados. De onde a importância deste vídeo (têm de clicar, abre noutra página).

vl_comercial_pais_animais

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Serviço público

A pedido de dois leitores, passo a explicar como se coloca um linque num comentário. Basta incluir no texto a seguinte linha de código html:

Vejamos um exemplo:


Quando se manda publicar o comentário, o computador faz as transformações necessárias (de início, convém fazer pré-visualização antes da publicação definitiva). Outras etiquetas de html que se podem utilizar nos comentários são o itálico e o negrito, respectivamente:



Agora, exercitem-se a encher as entradas do codornizes com comentários todos lincados. Um abraço!

Mil!

Algures nesta manhã, este blogue recebeu a sua visita número mil. Como não sei quem foi, os abraços vão para todos os que por aqui passam. Voltem sempre ao ninho da codorniz.

Vous me pardonerez, Madame...

Catherine Deneuve fez 64 anos ontem. O pedido de desculpas é mesmo pelo dia de atraso, não por me atrever a falar abertamente da idade de uma senhora. Esta mulher não tem tempo ou, se o tem, é apenas para refinar a elegância, a sensualidade, o enigma. O clip é do mesmo filme do meu último Sunday soundbyte, para que vejam que Catherine brilha entre 8, 80 ou 800 mulheres. Pelo prazer de a ouvirmos cantar (é mesmo a voz dela!). Pela coreografia deliciosa. E porque, nem que seja no ecrã do cinema, da televisão ou do computador, é impossível resistir à tentação de rebobinar vezes sem conta só para a ouvir dizer "Tu es mon homme". Depois, há o diálogo (ou direi duelo?) entre o canto-beicinho de Deneuve e o cigarro inapagável nos beiços da inapagável Fanny Ardant (seis anos mais nova do que a aniversariante), de quem me doeu não pôr imagem no outro dia. O pas de deux não deslustra nenhuma das duas, antes põe a brilhar as suas belezas contrastantes, como se fossem dois cálices de vinho do Porto de diferentes colheita, cor, corpo e aroma. Joyeux anniversaire, Belle de jour!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O voo da codorniz com Google Earth (III)

Às segundas-feiras, este blogue levanta voo. Há sítios que merecem uma paragem. Quem já por lá parou, ou gostava de parar, ou não pararia nem morto, faça favor de dizer porquê.


SoHo, Nova Iorque, Estados Unidos da América

Foram 18-horas-18, nada mais (e foi pena!). Fui pela primeira vez à Grande Maçã nos últimos dois dias do Verão passado. Quem me conhece não estranhará que diga que pouco me escapou - em voo rasante, claro -, do Ground Zero ao Central Park, passando por TriBeCa, Wall Street, Times Square, Little Italy e a Quinta Avenida, y compris Empire State. Mas, como é óbvio, escapou-me quase tudo (museus, Brooklyn, Chelsea, Chinatown, Battery Park, Harlem, Queens, clubes de jazz, Bronx, tempo para amar Nova Iorque e amar em Nova Iorque). Ficou, sobretudo, a vontade de voltar. A imagem é do SoHo, porque é um encanto. E porque foi onde comprei presentes para aqueles de quem as saudades já apertavam no início da viagem.

domingo, 21 de outubro de 2007

Sunday soundbytes (II)

A acabar o fim-de-semana, uma frase para pensar. Da banda sonora do excelente 8 Femmes, de François Ozon, uma pérola na voz de Fanny Ardant, que faz de Pierrette. A letra é de uma tal Nicoletta e o nome da canção é, precisamente, o trecho que escolhi.

fanny.mp3

Fim-de-semana campestre


Blur, Country house

Uma grande casa no campo, boa companhia, sol a rodos e fruta já descascada para as compotas. Antes da labuta cúmplice, um mergulho no Baleal num dia sem blogues nem Net. Ainda hoje, lá mais para a noite, o soundbyte deste domingo. Que agora vou passear pelas fazendas.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Chanson pour la saison


Chegaram esta semana à nossa cozinha. Amarelos com uma ou outra mancha castanha (são biológicos), perfumaram a casa toda, cortesia do querido Henrique Borges (grande amigo, um de vários tios-avôs emprestados que tenho, madeirense de gema e responsável, entre outras proezas, pela ressurreição do Campo Pequeno). A somar-se à batata-doce que já estava na despensa, estes 30 quilos de marmelos vêm ratificar um Outono cuja chegada, por pouco convincente que pareça, já celebrámos aqui e ali.
A partir de amanhã, e porque há na blogosfera e na vida sintonias que valem a pena, começa a metamorfose destes frutos em doces variados. Marmelada, muita, mas também geleia e talvez doce de quartos, como fazia a Avó Gina. Passar uma tarde à roda do tacho, à procura do ponto, fazendo da colher de pau varinha mágica, numa alquimia de cheiros e texturas que evocam passados e futuros, é um de vários rituais que a estação não dispensa. Mesmo que dispense, por agora, a chuva e o vento que também não tardarão.
Venha, então, o som. Para dar continuidade a um ricochete que esta codorniz fez num certo cais, respondamos a Les feuilles mortes e Autumn leaves, faces da mesma moeda, com uma homenagem que Serge Gainsbourg fez aos autores dessa música formidável, Jacques Prévert e Joseph Kosma. Chama-se, precisamente, La chanson de Prévert, e dedico-a ao meu pai, que um dia me ofereceu quatro discos só com versões dessas folhas mortas que me apaixonam.



Serge Gainsbourg, La chanson de Prévert

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Blogues à quinta (II)

À quinta-feira, a concorrência tem espaço no codornizes. A selecção é nossa, mas os blogues que aqui aparecem devem-no ao mérito.

Glória Fácil

Foi um dos primeiros blogues a que prestei atenção. A formação inicial era João Pedro Henriques, Maria José Oliveira e Nuno Simas. Depois, se não me engano, entrou a Ana Sá Lopes. À excepção do Simas, do DN os restantes blogueiros trabalhavam no Público, onde eu estava a estagiar (agora, a Ana e o João Pedro estão no DN). Tratavam-me nas palminhas e aprendi muito com eles. Mais tarde, a Maria José saiu e entrou a Fernanda Câncio, que agora já não está lá. Remodelações à parte, o blogue mantém a qualidade a que me habituou. Acutilante, divertido, actual, descontraído. Só tenho saudades dos apontamentos de música brasileira que a Ana não tem posto nos últimos tempos...

As glórias dos últimos dias incluem este delicioso diálogo virtual entre Pedro Santana Lopes e Luís Filipe Menezes, as cambalhotas da Zita Seabra, uma ferroada ao Portas e reflexões interessantes sobre jornalismo. Como vêem, esta glória só é fácil no nome. Porque é merecida, mas trabalhada e trabalhosa. Continuem!

Porque não deixa de ser Outono


Yves Montand, Les feuilles mortes

E para que as pequenas primaveras, verões e invernos da vida não nos façam esquecer que for everything there is a season, cá vai uma música, que aproveito para homenagear Yves Montand e muitos outros. Uns aparecem no filme, outros não...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Primavera outonal

Um fruto irrompe, este Outono, do limoeiro da minha mãe. O sol dá-lhe as boas-vindas e comovo-me. Há quem chame a esta altura do ano a queda da folha (fall, como se diz em americano), e com razão; não assim este ano. O Verão, o verdadeiro, o que alguns dizem que não houve, parece, desta vez, querer estender-se até ao seu erszatz de São Martinho. Esse, que costuma servir apenas para nos consolar da humidade, do frio e do luto outonais, talvez se transforme num apogeu apolíneo. Tudo porque algures entre o fim datado desse Verão instituído e o dia em que escrevo, um limão nasceu, um sol decidiu não se render, o tempo das queimadas e da morte deu lugar a uma quasi-Primavera fecunda. I feel good...

Jogo das cadeiras

E se, ao entrar no local de trabalho, depararmos com um friso de cadeiras de design arrojado? Surpresas destas não são inéditas - passe a publicidade - para quem trabalha no edifício São Francisco de Sales, da Impresa, cujo átrio tem um pé direito de quatro andares. Desta vez, a iniciativa é da revista Casa Cláudia (parabéns, Isabel Pilar Figueiredo!). Eis-me animado, para mais em dia de fecho do jornal, por 38 alegres cadeiras, resultantes de um desafio do Departamento de Artes e Tecnologia da Escola EB 2/3 de Cristelo à Câmara Municipal de Paredes.

Cada turma da escola decorou uma cadeira com base na obra de um artista plástico português, havendo outras de tema livre. Pessoa, Picasso, computadores, sóis e rendas são alguns dos elementos presentes. Outro ponto importante: as cadeiras vão ser leiloadas e os fundos reverterão a favor de várias instituições que os merecem. Passem por Paço d'Arcos até 22 de Outubro. O café é por minha conta!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Nem de propósito



Acabado de lançar esta entrada sobre o documentário sobre Vinicius de Moraes, leio, no Público, que a justiça brasileira decidiu indemnizar as três filhas do poeta pelos danos morais que este sofreu durante a ditadura militar de 1964-85. Luciana, Georgiana e Maria Gurjão de Moraes (algumas aparecem no filme) vão receber 19 mil euros cada. A carreira diplomática de Vinicius - aposentado compulsivamente em Abril de 1969 - também fica reabilitada com esta decisão. Razão mais do que suficiente para dizermos:

Tristeza
Por favor vai embora
Minha alma que chora
Está vendo o meu fim

Fez do meu coração a sua moradia
Já é demais o meu penar
Quero voltar àquela vida de alegria
Quero de novo cantar

Lá rá lá lá
Lá rá lá rá lá rá rá
Lá rá lá rá lá rá rá
Quero de novo cantar

tristeza.mp3


Resquícios de fim-de-semana

Ainda só vi o primeiro DVD, mas já posso dizer que esta obra é notável. Pela mão de Miguel Faria Jr., a vida e a obra de Vinicius são revisitadas por Toquinho, Caetano, Chico, Bethânia, Ferreira Gullar, Edu Lobo, Tônia Carrero, Gilberto Gil, Miúcha, Carlos Lyra, Francis Hime, Renato Braz, Yamandú Costa, Adriana Calcanhoto, Olívia Byington, Mônica Salmaso, Mariana de Moraes, Sérgio Cassiano, Zeca Pagodinho, MS Bom, Nego Jeil, Lerov, Mart Nália. Soberbo.

E, porque de bichos-papões se tem falado na blogosfera e não só, deixo-vos uma música que é também uma forma de retribuir um presente.
05-valsa para uma ...


Valsa para uma meninininha (Toquinho/Vinicius de Moraes)

Menininha do meu coração
Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha, não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção
Senhorinha levada
Batendo palminha
Fingindo assustada
Do bicho-papão

Menininha, que graça é você
Uma coisinha assim
Começando a viver
Fique assim, meu amor
Sem crescer
Porque o mundo é ruim, é ruim
E você vai sofrer de repente
Uma desilusão
Porque a vida é somente
Teu bicho-papão

Fique assim, fique assim
Sempre assim
E se lembre de mim
Pelas coisas que eu dei
E também não se esqueça de mim
Quando você souber enfim
De tudo o que eu amei

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O voo da codorniz com Google Earth (II)

A secção fixa das segundas-feiras convida a sobrevoar o mundo. Nos sítios onde paro, explico porquê. Reajam. Ou sugiram outras viagens!

Cabo Sounion, Ática, Grécia

No Verão de há 12 anos, um banho mediterrânico a 28 ou 29 graus, ao pôr do sol, com o templo de Poséidon a dominar o cenário. A Filipa, a Myrto (que será feito dela?) e eu, depois de uma viagem numa camioneta ronceirona.

Um presente que me deram...


Pedro Guerra, Contamíname

...e de que gostei.

domingo, 14 de outubro de 2007

Sunday soundbytes

Todos os domingos, uma frase que me tenha ficado no ouvido. Pelo que diz, por quem a diz ou pelos acordes que a acompanham. Esta vem do Beautiful boy de John Lennon.

boy.mp3

sábado, 13 de outubro de 2007

"A música é a melhor chucha do mundo"


Não são os laços familiares ou profissionais que motivam este destaque, mas também não serão eles a impedi-lo. Ele é meu pai, a revista é do mesmo grupo do Courrier, onde trabalho, mas nem por isso deixarei de dizer que a entrevista de Mário Cordeiro à Cândida Santos Silva (na Única do Expresso) merece ser lida. Em papel saiu hoje. De 3ª a 6ª está em acesso livre na Net. Adoro a frase escolhida para título. Eu que nunca usei chucha...

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Casa na pradaria


Tori Amos, Home on the range

Vou p'ró campo. Bom fim-de-semana!

Porque hoje é Dia de Espanha...


La oreja de Van Gogh, Puedes contar conmigo

...e porque não gosto de paradas militares ou procissões à virgem do Pilar, que é o que alguns fazem por lá, deixo-vos esta canção.

Rimbaud via Neruda via Skármeta

À l'aurore, armés d'une ardente patience, nous entrerons aux splendides villes.*

*Pela aurora, armados de uma ardente paciência, entraremos nas cidades esplêndidas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Blogues à quinta

Falar da concorrência - que não impede, antes estimula a cumplicidade - é o objectivo da secção que hoje enceto. Por aqui vão passar blogues que frequento, uns de forma mais regular do que outros. Visitem-nos. E digam de vossa justiça

Juro que tenho mais que fazer...


É o blogue da Madalena Vidal, que está algures no Brasil. Adoro o nome, porque tem muito que ver com esta coisa de blogar. Todos temos mais que fazer, mas não deixamos de vir aqui deixar um apontamento, uma imagem, uma música, ver se há novos comentários, responder, replicar e treplicar... às vezes para lá do razoável.
Juro que tenho mais que fazer é um blogue muito visual. São raras as entradas sem imagem (mais do que uma, frequentemente), sendo que algumas se resumem a uma frase que acompanha uma foto ou ilustração. A importância do poder de síntese raras vezes terá sido tão bem ilustrada.
Nos últimos dias, brindou-nos com Gal Costa a cantar Desafinado, Lili Caneças violada por um extra-terrestre (!), a linha de roupa brasileira DasPu (quem adivinha porque se chamam assim?), o sempre agradável de ver Chico Buarque (mesmo na condição de homem que faz de qualquer outro um corno potencial), um apelo dramático e fundamental pelos direitos humanos na Birmânia e outro alerta ambiental.
Ecléctico, legível, apetecível. Foi a sensação com que fiquei. Ah, e "roubei" a ideia de contar o que ando a ler. Ide, pois, e dizei de vossa justiça.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Punch-drunk love



Mais música, desta vez com uma versão singular de "Pela luz dos olhos teus", de Tom Jobim. O filme é um de dois que estão no Youtube (olha aqui o outro). Diz-se - e parece - que Tom e Vinícius estão bêbados. Eu fico, ao ouvi-los.

Ainda Espanha

Também gosto disto.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Fúria ibérica


Não tendo surgido, no primeiro dia deste blogue, um esboço de quem cria estas codornizes, a apresentação terá de fazer-se ao longo do tempo. Menos mal, assim trocamos a enumeração de virtudes e defeitos próprios, pouco fiável, pela sua descoberta por quem por eles se interessar. Não hesitem em apontar umas e, sobretudo, outros.

O sentimento ibérico é o primeiro traço a desvelar. Para dizer que gosto desta península e que não gosto que lhe façam cabronices destas. Mas delas falaremos outro dia.

Gosto de Portugal. Gosto de Espanha. As suas gentes pouco diferem das nossas, concluo das andanças castelhanas, catalãs, galegas, bascas, astures e andaluzas a que a vida me tem levado. Sem embarcar nas quimeras de Saramago, julgo que não era drama se a História tivesse feito de Portugal e Espnha um só país. Como fez dois, tire-se partido da diferença. E da diversidade interna de ambos. E das semelhanças, claro.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

O voo da codorniz com Google Earth (I)


Cais da Pedra à Bica do Sapato, Lisboa, Portugal

A ideia é sobrevoar o mundo e parar em sítios que me dizem algo. O desafio é deixarem na caixa de comentários algo sobre o que os mesmos locais vos dizem. Uma vez por semana, a codorniz levantará voo. Também aceita propostas de viagens...

There's such a lot of world to see



O nome do blogue é este porque foi o jantar de ontem e eu gostei. E porque o filme era bom e no filme estão sempre a falar de codornizes, embora a legendagem diga perdizes. A música que encabeça o post é esta por simpatia.

Não há um programa muito definido, mas este espaço vai servir para mostrar coisas novas e velhas, em rubricas fixas e móveis. Anima-me a vontade de não deixar que o tempo nos passe ao lado. Ou que a rotina contamine os tempos mortos e mate os tempos vivos.