segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O voo da codorniz com Google Earth (IV)

Mais um voo de segunda-feira. Quem já passou por este local? E o que têm a dizer sobre este ou outro que ele vos recorde? A codorniz levanta voo, vamos ver quem a apanha!

Alvalade, Lisboa, Portugal

A nossa casa

A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onte está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Costrói-a, num instante, o meu desejo!

Onde está ela, Amor, a nossa casa,
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?

Sonho... que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jadim,

Num país de ilusão que nunca vi...
E que eu moro - tão bom! - dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim...

Florbela Espanca


5 comentários:

Anónimo disse...

Alvalade! O nosso bairro... há uns tempos que ando para escrever sobre isso lá no meu cais, talvez agora inspirada pela Florbela Espanca.
Pode ser numa árvore, pode ser à beira-mar, pode ser num barco em alto mar, mas a morada do Amor é sempre um coração apaixonado! É o dentro de que fala o poema e de que fala o teu poema, que só eu conheço.
A nossa casa, Amor, é feita dos braços e dos abraços dos nossos corpos, entrelaçados em telhado, protegendo das intempéries que possam vir. Abraça mais, para a chuva não entrar; abraça mais, para o vento não deitar nada abaixo; protege-me, protege-nos! A nossa casa, Amor, somos nós, construída pelas chamas do Amor entre dois sopros do respirar.

Tu Reina

Mário disse...

Alvalade, que nada tem a ver com o José da dita.Também lá habitei, embora disfarçado de Rio de Janeiro e Brasil (off Pote d´Água).
Boas escolhas, "mano" - e não digo isto só para te consolar por ser um grande admirador do Cais.

Huckleberry Friend disse...

Querida reina, poucos dias na vida terão sido tão bons como aquele em que resolveste fazer teu o meu bairro. De onde os poemas (o que publico e o que talvez publique um dia), os abraços e o muito que não chega à blogosfera.

Pai, sempre que compro o jornal na Avenida da Igreja ou passo pelo barbeiro, lembro-me de quem me iniciou nesses rituais tão de bairro (a propósito, a senhora do quiosque ao lado da Biarritz mandou parabéns).

Ia dizer que Alvalade é a minha casa quase desde que me conheço, mas Alvalade, para mim, já são duas casas. Na Rio de Janeiro moram o carinho maternal, as memórias fraternais, a alegria de lá ir e de ver o lar onde cresci tornar-se um dos centros aglutinadores de uma família que cresce e se ramifica. No ninho actual, moram o amor e todas as possibilidades. Ah, e o Pote d'Água deixou boas recordações, das quais a menor não será ficar na varanda a ver os aviões.

miguel disse...

Li, hoje, directamente do "Codornizes " este belíssimo soneto, aos meus alunos do curso tecnológico de Desporto. Não gozaram. No contexto, o facto torna-se absolutamente significativo....ou talvez não.

Huckleberry Friend disse...

O facto tem, decerto, significado, quando ouvimos tantas vezes dizer que os jovens não ligam à poesia. Mais professores houvesse como tu, Miguel! E mais comentadores neste meu ninho de codornizes, onde espero ver-te assiduamente. Um abraço!