Chegaram esta semana à nossa cozinha. Amarelos com uma ou outra mancha castanha (são biológicos), perfumaram a casa toda, cortesia do querido Henrique Borges (grande amigo, um de vários tios-avôs emprestados que tenho, madeirense de gema e responsável, entre outras proezas, pela ressurreição do Campo Pequeno). A somar-se à batata-doce que já estava na despensa, estes 30 quilos de marmelos vêm ratificar um Outono cuja chegada, por pouco convincente que pareça, já celebrámos aqui e ali.
A partir de amanhã, e porque há na blogosfera e na vida sintonias que valem a pena, começa a metamorfose destes frutos em doces variados. Marmelada, muita, mas também geleia e talvez doce de quartos, como fazia a Avó Gina. Passar uma tarde à roda do tacho, à procura do ponto, fazendo da colher de pau varinha mágica, numa alquimia de cheiros e texturas que evocam passados e futuros, é um de vários rituais que a estação não dispensa. Mesmo que dispense, por agora, a chuva e o vento que também não tardarão.
Venha, então, o som. Para dar continuidade a um ricochete que esta codorniz fez num certo cais, respondamos a Les feuilles mortes e Autumn leaves, faces da mesma moeda, com uma homenagem que Serge Gainsbourg fez aos autores dessa música formidável, Jacques Prévert e Joseph Kosma. Chama-se, precisamente, La chanson de Prévert, e dedico-a ao meu pai, que um dia me ofereceu quatro discos só com versões dessas folhas mortas que me apaixonam.
Serge Gainsbourg, La chanson de Prévert
4 comentários:
Da terra do Henrique Borges, por quem já o pensamento viajou várias vezes hoje (ele e a família), vai um beijinho e uma boca aberta para os doces que se avizinham.
Pedi a um rapaz daqui, de seu nome Alberto Qualquer-Coisa, para dar uma ajuda - ele não sabe muito, mas tem um amigo, Qualquer-Coisa Ramos, que percebe de tachos.
de qualquer modo, doce de marmelo, marmelada e quartos de marmelo têm já lugar cativo na minha despensa.
Vá lá, Pedro. Bolas, sou teu Pai!!! Assim mesmo, com P maiúsculo.´
Queres maracujás para a troca?
Maracujás quero, imensos, que a mi reina le encantan... quanto à marmelada, ficou boa e já está ao sol. Beijinhos.
E, malcriadamente, não agradeci a dedicatória - mas é que a Madeira ficou inundada, de baba, lágrimas e manifestações de comoção (suor, não, apesar do calor que se faz sentir em terras de Alberto).
Aqui fica um "muito obrigado", sem ser obrigado mas muito, mesmo!
Beijinhos com aroma de anona, temperados com licor de funcho.
Pai
Ah, bom, estava a ver... Venham mas é os maracujás!
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