sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Ainda os mortos de ontem

Fernando Fernán-Gómez morreu aos 86 anos. Era actor, escritor, guionista, realizador e encenador. A sua quota no meu portefólio pessoal inclui a belíssima peça Las bicicletas son para el verano, sobre a Guerra Civil espanhola - que me levou às lágrimas quando a vi em Madrid -, o pai doente de Alzheimer em Todo sobre mi madre, de Almodóvar, o inquisidor de El rey pasmado (adaptação de Gonzalo Torrente Ballester por Imanol Uribe) e o professor de La lengua de las mariposas, belíssimo filme de José Luis Cuerda sobre contos de Manuel Rivas

Fernán-Gómez no documentário La silla de Fernando,
de Luis Alegre e David Trueba (ouçam também isto, que vale a pena)


Maurice Béjart tinha 80 anos. Era o nome do bailado contemporâneo, tão depressa coreografando Stravinsky, Mozart e Ravel como Queen, Elton John ou Jacques Brel e Barbara, cuja La solitude escolhi para o homenagear. Vi dois espectáculos seus no Coliseu dos Recreios, um deles com figurinos de Gianni Versace, e tive pena de falhar um terceiro. Sei pouco de dança, mas sei que o mestre punha os corpos a dançar lindamente.

La solitude, letra e música de Barbara,
coreografia de Maurice Béjart

6 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado!

Barbara é das Divas francesas que mais gosto e Maurice Béjart o grande coreógrafo da dança contemporânea, por ter influenciado a maior parte dos grandes coreógrafos depois dos anos 70

Anónimo disse...

Férnan-Gómez era também conhecido pelo seu mau génio. Disse o "¡a la mierda!" mais conhecido de Espanha. Curiosamente, a vítima desse momento de irritação foi hoje despedir-se daquele que, apesar de tudo, continuou a ser o seu ídolo: pediu-lhe perdão por ter provocado essa explosão de cólera e disse que algum dia tomariam um copo juntos. Simples e bonito.

myself disse...

Gostei da tua homenagem. A morte de Béjart chocou-me muito. Ainda há pouco tempo vi no Arte um belo documentário sobre ele.

Não te esqueças do desafio que deixei no 1 vez por semana.

Huckleberry Friend disse...

Também adoro Barbara, Marta. Emociona-me a voz, ao mesmo tempo doce e triste, as letras e músicas que escreveu e as releituras que fez de outros. Não sei se já te deste conta que, de tempos a tempos, este blogue e o da Sofia divulgam, ao mesmo tempo, versões diferentes de uma mesma canção. Esta brincadeira, que se chama Cais das Codornizes, foi inaugurada com Moustaki a cantar La ligne droite no cais e Barbara no codornizes. Adoro a interpretação de Barbara que pus aqui, mas arrepia-me ainda mais, na versão do Moustaki, quando ela entra para cantar a última frase.

Cidália, eis uma história própria dos grandes homens... quer pela coragem de dizer "¡a la mierda!" quando é necessário, quer pelo copo que se lhe seguiu. Obrigado pela visita, apareça sempre!

Myself, já ando a trabalhar no desafio... falta-me às vezes um Béjart a orientar os movimentos da escrita enquanto medito sobre a minha terra!

addiragram disse...

Assisti aquele espectáculo notável no Coliseu nos anos sessenta e mais tarde,muito mais tarde,a um outro também no Coliseu. Esta ligação Barbara/ Béjart vi-a no último espectáculo a que assisti. Como estive fóra, foi por aqui que soube da sua morte. Os notáveis ficam sempre connosco...quero acreditar!

Huckleberry Friend disse...

Addiragram, obrigado pela visita e pelo comentário. Nos anos 60 eu ainda não era nem projecto, mas lembro-me muito bem do espectáculo que incluía a Barbara. Começava com sete danças gregas (não sei se tradicionais, se de Hatzidakis ou Theodorakis) e encerrava com o Bolero de Ravel dançado em cima de uma mesa. O solista era homem ou mulher, consoante os dias da semana. Sim, com se vê por esta sequência de comentários, os notáveis ficam connosco! Beijinho.