sábado, 24 de novembro de 2007

Fim-de-semana em Lisboa

Pôr do sol do dia 7 de Novembro de 2004,
visto da cozinha da minha mãe

Às vezes sinto-me descurar a cidade. Por mais que precise do banho de alma que são os fins-de-semana no campo, faz bem namorar Lisboa sem ser ao ritmo do metro e do autocarro.

Gosto da minha casa. Foi ela que ensinou a um madrugador inveterado, desses que não suportam o peso de um tecto e quatro paredes enquanto há sol lá fora, que o sol também é bom visto de dentro, que a janela torna mais intenso o seu beijo numa face. Acho que nunca vou deixar de acordar cedo, e a pulsão do ar livre vai continuar a ser mais forte, mas de quando em vez gosto de me deixar seduzir por uma manhã entre quarto, sala e cozinha, café à discrição e discos pedidos.

Lisboa merece ser passeada. A Avenida da Igreja aqui ao lado, porção de ADN que se me colou desde a casa dos pais, na Rio de Janeiro, e que manteria ainda que vivesse nos antípodas. Uma caminhada até à Versailles ou, porque não, à Baixa, onde teria estado hoje não fora a preguiça... depois, há bairros como Marvila, Bica, os Prazeres a descer para Alcântara, o eixo Lapa/Rocha do Conde de Óbidos/Santos-o-Velho, em que ninguém pensa à primeira quando pensa em passear. E jardins - mormente o da Gulbenkian, mas também o Amália Rodrigues, no alto do Parque Eduardo VII, o da Estrela e até, malgré soi-même, o Campo Grande, onde o Avô Quim nos levava.

E o rio? Um brunch na Delidelux, um esticão do Terreiro do Paço ao Restelo (um pulo às tias), ou trepar ao Castelo e tomar um mojito no Bar das Imagens ou no Chapitô. Ou então virar o espelho ao contrário e ir ver Lisboa da Outra Banda: estou há séculos para conhecer o Cais do Ginjal e tenho um brinde prometido no Porto Brandão. Sem esquecer a Linha, para onde aponta, hoje, o meu cata-vento... bom, hoje e todos os dias, pois é lá que trabalho, e felizmente consigo disfrutar disso. E a outra linha, a de Sintra, chá na Raposa e travesseiro na Piriquita (e o comboio para a praia, com os miúdos, que não passa do próximo Verão).

Um fim-de-semana em Lisboa é isto, e pode ser tudo o resto. Noitadas de copos a ouvir boa música (são dois links) ou a dançar sem pensar em nada, mais tempo para os amigos, programas culturais aos montes (que bom ter alguém que nos sublinha a Time Out de uma ponta à outra, para não deixarmos de ver coisas bonitas!) e, em breve, as feirinhas de Natal de que tanto gosto.

Um fim-de-semana em Lisboa, em navegação solitária ou de mãos dadas, é um poema de amor à minha terra.

12 comentários:

Por entre o luar disse...

Gostei**

Beijo:)

Teresa disse...

Olá, vim espreitar quem era esta pessoa que tinha "lincado" o Beatles Forever e cujo blogue encontro entre os links da MAD, conhecimento muito recente e mais uma das grandes e boas surpresas que a blogosfera me tem feito.

Parece que este mundo não passa mesmo de uma aldeia muito pequenina, alguns dos cenários aqui descritos são-me muito familiares e... vê lá tu, até vivi na Rio de Janeiro.

Adorei o teu username, que me remete de imediato para o Moon River.

Obrigada pelas visitas ao BF (a casa-mãe é a Gota), comentários e sugestões são muito bem-vindos.

Skyman disse...

Lisboa é de facto uma cidade fantástica, para além de tudo o que mencionaste, tem uma luz que por muito que viaje, não consigo arranjar paralelo.
abraço

Huckleberry Friend disse...

Por entre o luar, ainda bem que gostaste. Eu também gostei do meu dia em Lisboa, que incluiu lojas do chinês, chá com scones e bolo inglês no Convento dos Cardaes e um mercado no Príncipe Real. Beijinhos!

Teresa, linquei com gosto, porque sou fã dos Beatles. Fico contente com esta visita, que espero não seja a última, até porque além dos Fab Four temos em comum a amizade com a Mad e, pelos vistos, uma rua onde já vivemos!
Parabéns por seres a primeira a ligar o username à sua verdadeira origem. Vou lincar a Gota e continuarei a visitar ambos os blogues. Beijinho!

Skyman, a luz é a chave para perceber Lisboa. E é especialmente bonita no Outono, como hoje tive ocasião de confirmar num passeio pela Sétima Colina. Abraço!

Anónimo disse...

Que bem descrita a minha Lisboa.

Anónimo disse...

Alvalade, Avenida da Igreja, essa é a Lisboa luminosa da minha adolescência e 1ª juventude, mas Lisboa inteira, como tão bem a descreves aqui, é o tempo-espaço do meu ser mais inteiro. Depois a vida dá voltas, perseguimos a falácia (para mim foi uma falácia) do viver no campo e agora, Lisboa, só em alguns fins de semana. Foi como voltar, ler a tua crónica.
Obrigada pelo convite, Pedro!
Um abraço

Maria del Sol disse...

Desde que regressei de um semestre em Itália, em Fevereiro passado (e sem desfazer na beleza daquele país, de que muito gosto) que me tornei mais sensível ao encanto de Lisboa. De há um mês para cá que não há Sábado em que não dê o meu passeio pedestre pela cidade, a Baixa em pleno Outono é uma delícia :)

Beijinhos e bom Domingo.

SF disse...

"Lisboa merece ser passeada."
Merece sim! Talvez vá passeá-la no próximo fim-de-semana.
Recomendações...?!

Huckleberry Friend disse...

Marta, um beijinho ;)

Soledade, mais uma "alvaladense" encontrada através deste blogue. Fico contente! Quanto ao campo, já lá morei em pequeno e já tive mais vontade de lá morar... nunca digo nunca, mas hoje seria obrigado a viver no campo e a trabalhar em Lisboa, o que não me parece prenúncio de grande qualidade de vida. Prefiro gozar o melhor de dois mundos, passando quase todos os fins-de-semana no meu Toxofal (ali ao pé da Lourinhã) e gozando, como tu, um ou outro em Lisboa. Com o olhar de quem vive na cidade, mas não deixa, por isso de querer descobrir-lhe novos encantos.

Maria del Sol, a distância faz-nos ver as coisas por outro prisma e valorizar o que a rotina torna banal. Os meus fins-de-semana lisboetas também ganham por serem esporádicos... dá tanta saudade!

SF, desejo-te bons passeios, sobretudo se o tempo se mantiver. Recomendações: todas as que incluí na entrada, mais Alfama. E uma saltada ao Bairro Alto, à noite. Se tiveres alguma dúvida concreta, avisa.

Obrigado a todas, continuem a passar por este ninho!

Teresa disse...

Que engraçado! O título do post é precisamente a frase que mais me toca na música! Cito-a muitas vezes.
Tenho-a cantada pela Audrey e pelo Andy Williams, se quiseres... é só dizer.

M. disse...

Bem, venho a este ninho não a esvoaçar,mas sim num passo irregular e tímido, redimir-me...
em primeiro lugar,por ser leitora tão assidua deste cantinho e nao ter comentado,mea culpa,mea culpa.. mesmo quando tenho um post-pseudo-amoroso-nostalgico, nao tenho desculpa.sou um desnaturada..
A descricao dos vossos passeios é musica para quem passou o fim-de-semana em casa a estudar direito comercial..
Gosto de andar aqui pelo ninho,abstendo-me de pensar nos pobres coitados ovinhos,mas sim no quanto gosto de diariamente encontrar algo novo no ninho. e pra mim o ninho das codornizes é logo logo ao lado do cais,senao no mesmo sitio.

esqueceu-se de uma zona queridissima e tão tradicional como aqui arua do arco as.mamede/travessa do noronha..isso sim é Lisboa, no seu melhor:P ok..tirando o Memorial ali na esquina.

*piu

Huckleberry Friend disse...

Teresa, de novo em sintonia. O título da primeira entrada deste blogue diz tudo sobre o que pretendo dele. E, de certa forma, da vida. Também repito mil vezes essa frase, às vezes no original, outras vezes mutando-a para "Há tanto, tanto mundo para ver". Quanto à tua oferta, está mais do que aceite. Queres mandar para o meu mail, sff? Vem a tempo de pôr aqui a música para celebrar os dois meses do blogue (8 Dez.) Beijinhos!

M.'zinha, neste ninho de codornizes não fazemos a chamada nem picamos o ponto. És querida, bate as asas ao ritmo que te apetecer e, se o voo te trouxer ao ninho, tant mieux (mas vê esta entrada e esta)! As visitas silenciosas não valem menos do que as outras, sobretudo se algum ovo aqui deixado te fizer sorrir aquele sorriso de que gosto.

E sim, o cais e o ninho estão perto, embora cada uno en su sitio. Dali vê-se o mar com olhos azuis, daqui a terra com olhos verdes. Por vezes emprestamo-nos os olhares, e de ambos se contempla o céu com perplexidade. Já hoje escrevi que é bom quando os amigos percebem isso. Um beijinho para ti e obrigado pelo Tiersen matinal...

PS: Adoro a zona do Arco a São Mamede... *piu piu